São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2006

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ACIDENTE

Irmão de uma das 19 vítimas da queda do avião no RJ diz que evitou engano ao insistir no reconhecimento; instituto nega

Parente acusa IML de confundir corpos

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O irmão de um dos 19 mortos na queda do avião da Team, acidentado na última sexta-feira, disse ontem que, se não fosse a sua insistência em reconhecer o corpo, poderia ter enterrado o piloto da aeronave como se fosse Marden del Souza, 48, seu irmão.
Cinco vítimas foram sepultadas ontem, no Rio. O avião da Team caiu e explodiu sexta-feira, em Rio Bonito (a 70 km do Rio), quando fazia a rota Macaé-Rio.
Segundo Emerson Souza, a iniciativa do Instituto Médico Legal de evitar o reconhecimento dos corpos -desfigurados- pessoalmente pelos parentes quase fez o piloto Michael Petter Hutten ser enterrado como se fosse Marden, seu colega de turma de 1973 da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epicar). Documentos dos dois também teriam sido encontrados próximos. O IML nega que a confusão tenha ocorrido.
Segundo Emerson, os técnicos do IML disseram que o corpo de seu irmão estava muito carbonizado, mas tinha sido identificado por uma tatuagem. Ele contestou, dizendo que Marden não tinha tatuagem e pediu para ver o corpo.
"Bati o pé: queria ter certeza de que enterraria o meu irmão. Disseram que o corpo estava carbonizado e o identificaram por uma tatuagem, que era do Hutten. [estão] mais preocupados em mostrar a eficiência de um órgão que em ajudar as famílias", disse Emerson no enterro, ontem, no Rio. Para ele, a suposta pressa do IML em identificar os corpos poderia ter levado a um grave erro. Disse ter conseguido ver o irmão por interferência de amigos do irmão na Aeronáutica.
Emerson reconheceu Marden pela roupa, por um queloma sob o queixo, escondido por cavanhaque, e pelas cicatrizes nos joelhos, fruto de cirurgias. Marden era piloto de helicóptero, mas ocupava o cargo de gerente-executivo da Líder Aviação.
O diretor do IML, Roger Ancillotti, afirmou que o reconhecimento por parentes em casos de acidente como esse é evitado para não haver identificação equivocada por conta da emoção. Ele negou ter havido dúvida ou erro.
"Os corpos só saíram depois de checados pelos procedimentos técnicos: impressões digitais e arcada dentária. Duas famílias reconheceram o corpo de Marden, a dele e a da viúva. Por ser piloto, o Centro de Medicina Aeroespacial tem fotografias da arcada dentária, o que facilita muito. O corpo de Hutten era de identificação simples, por causa da tatuagem do seu grupo de aviação que tinha no braço", disse Ancillotti.
Gerente da Petrobras designada para dar assistência às vítimas do acidente, a mulher de Marden, Cláudia, teve um choque ao saber que o marido estava na lista de mortos. Muito abalada, ela não quis falar à imprensa no enterro.
A família também reclamou de falta de assistência da Team. "Só se apresentaram para nós aqui no cemitério. Toda a ajuda de transporte veio da Líder e da Petrobras", disse Emerson. Segundo ele, a família viajou de Rio Bonito (a 70 km do Rio) para obter a certidão de óbito.
A Team informou que pagou a passagem dos pais de Marden, que visitavam a filha nos Estados Unidos. O diretor de relações institucionais da Team, David Faria, disse que o piloto era seu amigo e que foi o fiel depositário de seus pertences. "Credito a declaração à gravidade da situação", disse.

Corpos não identificados
De acordo com o IML, apenas quatro das 19 vítimas ainda não foram identificadas. O reconhecimento, segundo Ancillotti, foi feito por meio de fotos do rosto de nove mortos, todas enviadas por e-mail ao hotel onde estão os parentes da vítimas, e de análise da arcada dentária de seis.
Os outros quatro corpos, segundo Ancillotti, terão de passar por exames de DNA, que só ficarão prontos em 30 dias.


Colaborou MAURO TOUGUINHÓ


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