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MEIO AMBIENTE
Motorista usa carro velho com placa diferente para driblar o rodízio, mas aumenta a poluição do ar
2º carro deve reduzir efeitos do rodízio
FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local
A sucessão de rodízios de veículos realizados em São Paulo está
acelerando o processo de sucateamento da frota, o que deve reduzir
os efeitos do rodízio estadual que
começa amanhã em dez municípios da Grande São Paulo.
Até setembro de 97, havia apenas o rodízio de média duração
(três meses) promovido pelo Estado. Mas a implantação do rodízio
permanente da prefeitura, nos horários de pico, e o aumento da duração do programa estadual (serão
cinco meses este ano) estão incentivando a compra de um segundo
carro, geralmente mais velho,
mais barato e mais poluente.
Esse processo, conhecido pelos
técnicos brasileiros como "mexicanização", ocorreu no início da
década na Cidade do México, capital que enfrenta sérios problemas de poluição atmosférica.
Não há estatísticas oficiais que
demonstram o crescimento da
frota de veículo velhos na capital,
porque muitos nem têm registro
no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo.
Mas o major Luiz Flaviano Furtado, diretor da Divisão de Fiscalização do Detran, diz que o rodízio
aumentou o número de veículos
velhos apreendidos nas blitze.
No ano passado, antes do início
do rodízio estadual, o pátio do Detran registrava uma média de mil
veículos velhos apreendidos. Já
durante o programa de restrição,
o número pulou para 2.300. Esses
veículos aguardam o prazo legal
para ser vendidos em leilão público. "Os vários rodízios são incentivos para que o cidadão compre o
segundo e até o terceiro carro."
O comerciante Raimundo Santos engrossou na última semana
essa estatística extra-oficial. Seu
Opala 82, comprado há um mês
para driblar o rodízio de veículos,
foi apreendido em uma blitz.
"O carro realmente não estava
em boas condições e a fumaça que
saia do escapamento era bem escura. Mas apreender é um abuso", reclama Santos.
Carros velhos, sem equipamentos antipoluição, chegam a emitir
até 15 vezes mais partículas de CO
(monóxido de carbono, o principal vilão da poluição de São Paulo)
que carros novos.
Para o diretor de operações da
CET, Luiz Carlos Santos Cunha, a
mexicanização é um risco maior
este ano. "No programa da prefeitura, o motorista altera seus horários de deslocamento. Mas com
um rodízio de cinco meses, como
agora, a frota de carros reservas
deve aumentar rapidamente."
Pesquisa do governo estadual indica que apenas 0,7% da população manifestou interesse em comprar um segundo carro para escapar do rodízio. "Ainda é um número pequeno", diz o gerente de
qualidade ambiental da Cetesb,
Cláudio Alonso. "Mas a tendência
é preocupante para o futuro."
O Chile combateu a mexicanização alternando a ordem das placas
proibidas a cada mês -assim o
motorista nunca saberá qual dupla de placas ficará proibida de rodar. O governo mexicano liberou
do rodízio carros novos para acelerar a renovação da frota -medida criticada por favorecer a indústria automobilística.
"Estamos estudando alternativas para, a partir do próximo ano,
reduzirmos a mexicanização em
São Paulo", diz Alonso.
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