São Paulo, domingo, 3 de maio de 1998

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MEIO AMBIENTE
Motorista usa carro velho com placa diferente para driblar o rodízio, mas aumenta a poluição do ar
2º carro deve reduzir efeitos do rodízio

FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

A sucessão de rodízios de veículos realizados em São Paulo está acelerando o processo de sucateamento da frota, o que deve reduzir os efeitos do rodízio estadual que começa amanhã em dez municípios da Grande São Paulo.
Até setembro de 97, havia apenas o rodízio de média duração (três meses) promovido pelo Estado. Mas a implantação do rodízio permanente da prefeitura, nos horários de pico, e o aumento da duração do programa estadual (serão cinco meses este ano) estão incentivando a compra de um segundo carro, geralmente mais velho, mais barato e mais poluente.
Esse processo, conhecido pelos técnicos brasileiros como "mexicanização", ocorreu no início da década na Cidade do México, capital que enfrenta sérios problemas de poluição atmosférica.
Não há estatísticas oficiais que demonstram o crescimento da frota de veículo velhos na capital, porque muitos nem têm registro no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo. Mas o major Luiz Flaviano Furtado, diretor da Divisão de Fiscalização do Detran, diz que o rodízio aumentou o número de veículos velhos apreendidos nas blitze.
No ano passado, antes do início do rodízio estadual, o pátio do Detran registrava uma média de mil veículos velhos apreendidos. Já durante o programa de restrição, o número pulou para 2.300. Esses veículos aguardam o prazo legal para ser vendidos em leilão público. "Os vários rodízios são incentivos para que o cidadão compre o segundo e até o terceiro carro."
O comerciante Raimundo Santos engrossou na última semana essa estatística extra-oficial. Seu Opala 82, comprado há um mês para driblar o rodízio de veículos, foi apreendido em uma blitz.
"O carro realmente não estava em boas condições e a fumaça que saia do escapamento era bem escura. Mas apreender é um abuso", reclama Santos.
Carros velhos, sem equipamentos antipoluição, chegam a emitir até 15 vezes mais partículas de CO (monóxido de carbono, o principal vilão da poluição de São Paulo) que carros novos.
Para o diretor de operações da CET, Luiz Carlos Santos Cunha, a mexicanização é um risco maior este ano. "No programa da prefeitura, o motorista altera seus horários de deslocamento. Mas com um rodízio de cinco meses, como agora, a frota de carros reservas deve aumentar rapidamente."
Pesquisa do governo estadual indica que apenas 0,7% da população manifestou interesse em comprar um segundo carro para escapar do rodízio. "Ainda é um número pequeno", diz o gerente de qualidade ambiental da Cetesb, Cláudio Alonso. "Mas a tendência é preocupante para o futuro."
O Chile combateu a mexicanização alternando a ordem das placas proibidas a cada mês -assim o motorista nunca saberá qual dupla de placas ficará proibida de rodar. O governo mexicano liberou do rodízio carros novos para acelerar a renovação da frota -medida criticada por favorecer a indústria automobilística.
"Estamos estudando alternativas para, a partir do próximo ano, reduzirmos a mexicanização em São Paulo", diz Alonso.



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