|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Revitalizar a cracolândia é possível e viável, diz Lerner
Prefeitura vai desapropriar 103 mil m2
e vender para quem revitalizar a região
O arquiteto Jaime Lerner foi
contratado por um dos
grupos interessados em
construir um novo bairro na
cracolândia, centro de SP
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é fácil, em todo o mundo,
encontrar uma área do tamanho da cracolândia, com âncoras culturais ao redor. Por isso,
a revitalização da área é viável e
será um exemplo para o Brasil.
A opinião é do arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná. Ele foi contratado pela Company S.A., um dos dois grupos interessados em construir
um novo bairro na cracolândia
-o outro é a Odebrecht- para
fazer o projeto arquitetônico e
urbanístico do futuro bairro. A
prefeitura vai desapropriar 103
mil metros quadrados e vender,
em um lote, para a empresa que
revitalizar a região.
Na última segunda-feira Lerner falou à Folha, por telefone,
sobre o projeto para a Nova
Luz e revelou que moraria no
novo bairro a ser construído.
FOLHA - Qual o conceito do projeto
para a cracolândia?
JAIME LERNER - A região da Luz
tem três grandes âncoras culturais: a Pinacoteca, o Museu da
Língua Portuguesa, na estação
da Luz, e a Sala São Paulo. As
melhores âncoras culturais do
país estão hoje circundadas por
uma ocupação decadente.
A nossa idéia é revitalizar, e
revitalizar, como a palavra diz,
é voltar a viver. E voltar a viver
uma das melhores áreas da cidade. Essa decadência é triste e
pode ser recuperada. Acho fundamental, nessa história toda,
que haja uma mistura de funções, de renda, de idades, que
haja essa sociodiversidade.
FOLHA - E como se consegue isso?
LERNER - Há possibilidade de
ser uma região que tenha moradia, comércio, vida. É possível estabelecer convivência de
várias faixas de renda. Isso é
bom, seguro, porque estabelece
a troca de serviços entre elas.
Não sou ingênuo de dizer
que, em um prédio, vai ter todas as faixas de renda. Mas em
diferentes ruas.
E a idéia de fazer simultaneamente é para viabilizar.
FOLHA - Além dos equipamentos
culturais que já existem próximos, o
que terá na área interna do bairro?
LERNER - Todo um parque cultural novo. Tudo o que é necessário, toda a movimentação artística, todas as alternativas.
Enfim, acho que pode ser o primeiro grande, em uma escala
realmente grande, empreendimento privado a favor da cidade, ele foi pensado assim.
FOLHA - Em Curitiba teve algum
exemplo parecido?
LERNER - Lá já tinha uma mistura de renda. Por exemplo, no
centro, nós injetamos o que faltava para não decair: moradia.
E uma área dessa, com as âncoras culturais que tem, não é fácil de se encontrar no mundo.
Você vai encontrar um, mas
três grandes equipamentos? Só
falta o Masp e o do Niemeyer [o
MAM]. E o [museu] da escultura, do Paulo Mendes da Rocha.
FOLHA - O senhor acha que vai ter
mercado para tudo?
LERNER - Moraria em uma área
dessas, tranquilamente.
FOLHA - A baixa renda vai ter condições de comprar também?
LERNER - Vai, pois hoje está sendo pensado como viabilizar,
com maneiras de fazer uma
moradia acessível. E o centro
pode ser acessível.
De imediato, você economiza
de 25 a 50 m2, porque pode ter
um carro ou não. Então, você
tem um apartamento de 70 m2,
ele é um apartamento bom.
Agora, se quiser ter vaga para
dois carros, vai pagar 120 m2.
Estando no miolo, você vai decidir se quer ou não gastar 50
m2 a mais com o carro ou só
gastar com sua família.
Texto Anterior: Preso é acusado de fazer 140 ligações de falso seqüestro ao dia Próximo Texto: Força Sindical quer reunir 10 mil pessoas por legalização dos bingos Índice
|