São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Revitalizar a cracolândia é possível e viável, diz Lerner

Prefeitura vai desapropriar 103 mil m2 e vender para quem revitalizar a região

O arquiteto Jaime Lerner foi contratado por um dos grupos interessados em construir um novo bairro na cracolândia, centro de SP

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é fácil, em todo o mundo, encontrar uma área do tamanho da cracolândia, com âncoras culturais ao redor. Por isso, a revitalização da área é viável e será um exemplo para o Brasil.
A opinião é do arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná. Ele foi contratado pela Company S.A., um dos dois grupos interessados em construir um novo bairro na cracolândia -o outro é a Odebrecht- para fazer o projeto arquitetônico e urbanístico do futuro bairro. A prefeitura vai desapropriar 103 mil metros quadrados e vender, em um lote, para a empresa que revitalizar a região.
Na última segunda-feira Lerner falou à Folha, por telefone, sobre o projeto para a Nova Luz e revelou que moraria no novo bairro a ser construído.  

FOLHA - Qual o conceito do projeto para a cracolândia?
JAIME LERNER
- A região da Luz tem três grandes âncoras culturais: a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz, e a Sala São Paulo. As melhores âncoras culturais do país estão hoje circundadas por uma ocupação decadente. A nossa idéia é revitalizar, e revitalizar, como a palavra diz, é voltar a viver. E voltar a viver uma das melhores áreas da cidade. Essa decadência é triste e pode ser recuperada. Acho fundamental, nessa história toda, que haja uma mistura de funções, de renda, de idades, que haja essa sociodiversidade.

FOLHA - E como se consegue isso?
LERNER
- Há possibilidade de ser uma região que tenha moradia, comércio, vida. É possível estabelecer convivência de várias faixas de renda. Isso é bom, seguro, porque estabelece a troca de serviços entre elas. Não sou ingênuo de dizer que, em um prédio, vai ter todas as faixas de renda. Mas em diferentes ruas. E a idéia de fazer simultaneamente é para viabilizar.

FOLHA - Além dos equipamentos culturais que já existem próximos, o que terá na área interna do bairro?
LERNER
- Todo um parque cultural novo. Tudo o que é necessário, toda a movimentação artística, todas as alternativas. Enfim, acho que pode ser o primeiro grande, em uma escala realmente grande, empreendimento privado a favor da cidade, ele foi pensado assim.

FOLHA - Em Curitiba teve algum exemplo parecido?
LERNER
- Lá já tinha uma mistura de renda. Por exemplo, no centro, nós injetamos o que faltava para não decair: moradia. E uma área dessa, com as âncoras culturais que tem, não é fácil de se encontrar no mundo. Você vai encontrar um, mas três grandes equipamentos? Só falta o Masp e o do Niemeyer [o MAM]. E o [museu] da escultura, do Paulo Mendes da Rocha.

FOLHA - O senhor acha que vai ter mercado para tudo?
LERNER
- Moraria em uma área dessas, tranquilamente.

FOLHA - A baixa renda vai ter condições de comprar também?
LERNER
- Vai, pois hoje está sendo pensado como viabilizar, com maneiras de fazer uma moradia acessível. E o centro pode ser acessível.
De imediato, você economiza de 25 a 50 m2, porque pode ter um carro ou não. Então, você tem um apartamento de 70 m2, ele é um apartamento bom. Agora, se quiser ter vaga para dois carros, vai pagar 120 m2. Estando no miolo, você vai decidir se quer ou não gastar 50 m2 a mais com o carro ou só gastar com sua família.


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