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TRAGÉDIA NO ATLÂNTICO
Mãe e filho somem; em voo diferente, pai e filha chegam
Por medo de deixar os filhos sozinhos, a sueca Christine Schnabl tem o costume de separar a família em viagens
Mesma precaução é tomada por outras famílias; casal brasileiro vai a Paris dentro de um mês, pela Air France, cada um num dia diferente
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A sueca Christine Badre
Schnabl, 34, sempre teve uma
precaução curiosa com a família para evitar que, em caso de
acidente, os filhos percam o pai
e a mãe ao mesmo tempo.
A cada viagem que ela e o marido fazem, cada um vai num
voo diferente. Foi assim que fizeram no domingo, quando ela
embarcou com Philipe, 5, o filho mais velho, no voo 447 da
Air France que desapareceu sobre o oceano Atlântico.
O marido, que pede para não
ter o nome divulgado, seguiu
com a filha de três anos noutra
companhia algumas horas antes e esperou em vão, no aeroporto Charles de Gaulle, o avião
francês que nunca chegou.
À noite, o marido de Christine embarcou com a filha para
Estocolmo para se encontrar
com os parentes suecos.
Voluntária
Christine vive no Rio de Janeiro há dez anos e planejou
passar as férias com a família
na Suécia. Trabalha como engenheira civil na câmara de comércio do consulado norueguês na cidade. E é voluntária
num projeto que ajuda mães
pobres de favelas cariocas.
"Não consigo acreditar que
Christine e meu neto não vão
mais voltar, isso é terrível. Falei
com Christine pelo telefone,
momentos antes de ela embarcar. Ela era cheia de vida e amada por todos", disse a mãe de
Christine, Annika Badre, ao
jornal sueco "Expressen".
A igreja escandinava no Rio
de Janeiro, na praia do Flamengo, mantém uma vigília
desde a noite de segunda para
os fiéis que queiram acender
uma vela pela sueca Christine e
os demais passageiros do voo
desaparecido da Air France.
A precaução de viajar em
voos distintos é tomada por
Maria Alzira, 67, professora de
história e sociologia do Colégio
Sion, desde que o casal de filhos, hoje com mais de 30 anos,
eram crianças.
Ela e o marido, Nerel, vão a
Paris, pela Air France, daqui a
um mês. Cada um num dia diferente, segundo diz.
"É um costume que tenho independentemente dos acidentes que já aconteceram. Depois
que tivemos filho passamos a
viajar mais tranquilos indo separados por medo de avião. Peguei a mania e acabei achando
que é bom", afirma.
"É um costume do qual as
pessoas debocham. Perguntam
sempre se também andamos
em carros separados. Meus filhos ficariam muito sós, não teria quem cuidasse deles. Essa
história da família sueca só veio
confirmar que tenho uma certa
razão em fazer assim", completa Maria Alzira.
A estratégia de viajar em voos
separados também é adotada
por grandes empresas. Presidentes, vice-presidentes e altos
executivos, em geral, nunca
viajam juntos no mesmo avião.
Em maio, o financista Roger
Ian Wright morreu num acidente aéreo em Trancoso (BA).
No avião estavam todos os
membros da família: mulher,
dois filhos e quatro netos.
Com agências internacionais
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