São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MUTIRÃO ABC une opostos contra analfabetismo
ARMANDO ANTENORE RICARDO ZORZETTO da Reportagem Local Se o aluno não pode ir à escola, a escola vai ao aluno. Ao menos, isso vem acontecendo em seis dos sete municípios do ABC, na Grande São Paulo. Ali, grupos de ideologias diversas (católicos, evangélicos, empresários, sindicalistas, governos municipais e entidades civis) uniram forças para tentar erradicar o analfabetismo e foram atrás dos alunos com a criação do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos). O projeto surge em 1995, a partir da necessidade de aperfeiçoamento dos trabalhadores das indústrias, após a abertura da economia no governo Collor. "Com a globalização, as empresas começaram a exigir 1º e 2º graus dos empregados e surgiu a necessidade de o profissional aprender outras atividades", diz Joel Fonseca, coordenador do Mova Regional no ABC. Segundo Fonseca, na época, os sindicatos constataram que o aperfeiçoamento não seria possível para muitos, pois não sabiam ler nem escrever. Em 1995, o Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC buscou parceria com as prefeituras locais (Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) para alfabetizar os trabalhadores. Diadema, governada na época pelo PT, foi a primeira cidade a se mobilizar. "Seis meses após o início do Mova, em setembro de 1995, havia cerca de 80 salas de aula para 20 alunos cada", diz. Para Fonseca, o Mova vem suprir a insuficiência das redes municipal e estadual de ensino. Podem participar pessoas sem instrução com mais de 15 anos. Os alunos têm aulas de cerca de duas horas e meia de segunda a quinta-feira. Os educadores são pessoas da comunidade que têm, no mínimo, o 2º grau completo e passam por um curso de formação de 30 horas. Eles recebem ajuda de custo que vai de R$ 100 a R$ 200. O trabalho é acompanhado semanalmente por técnicos das secretarias municipais de Educação. O método adotado é baseado na experiência implantada pelo educador Paulo Freire em São Paulo, no governo de Luíza Erundina (1989-1992). No processo, o aluno aprende a decifrar a linguagem escrita e a refletir sobre seu uso. "A aquisição da escrita é feita a partir de coisas que têm significado para o aluno", diz Jeanete Beauchame, secretária da Educação de Mauá. O aluno só termina o curso após estar interpretando o que escreve e lê. Depois é incentivado a cursar o supletivo. Num acordo fechado em março de 1997 pela Câmara Regional do Grande ABC, outros cinco municípios (três governados pelo PT, um pelo PSDB e outro pelo PMDB) adotaram o Mova. O único a ficar de fora foi São Caetano. O entendimento foi assinado por entidades civis, governos municipais, sindicatos e empresas, exceto o governo do Estado. Hoje o movimento atende 4.963 pessoas em 280 salas de aula. Segundo Fonseca, o objetivo é ter 750 salas até o fim de 1998, atendendo 15 mil pessoas, e eliminar os 200 mil analfabetos da região até 2001. Ele diz acreditar que isso é difícil, talvez impossível. Para chegar lá, na sua opinião, é preciso envolvimento de empresários e sociedade. Para isso, será promovido hoje, às 19h, um ato de compromisso, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. (RZ) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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