São Paulo, quarta, 3 de junho de 1998

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"Gonzagão não sabia o bê-á-bá'

da Reportagem Local

A pernambucana Maria da Silva, que mora há apenas 13 meses em Ribeirão Pires, acaba de fazer uma "descoberta espetacular": Luiz Gonzaga "falava errado".
"Sempre achei que o Lua fosse um sabichão. Mas agora estou desconfiada de que o diabo do homem não conhecia o bê-á-bá", diz a cozinheira de 32 anos, mãe de cinco filhos.
A "ignorância do forrozeiro" se revelou para Maria durante uma aula do Mova. A professora lhe propôs estudar "A Triste Partida", canção de Patativa do Assaré que Gonzagão gravou.
A letra da música reproduz a fala nordestina em versos como: "Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia/ por terras aleia/ nós vamo vagá/ se o nosso destino fô tão mesquinho/ pro mesmo cantinho/ nós torna a vortá".
"Era assim mesmo que o danado cantava: vortá, vagá, vamo. Mas está tudo errado. O certo é voltar, vagar, vamos. O Gonzagão confundia as palavras, e eu só percebi depois de velha", explica a cozinheira.
Na verdade, o sanfoneiro sabia ler e escrever, embora se apropriasse artisticamente do linguajar popular.
Com mais 17 alunos, Maria frequenta o curso noturno do Mova desde setembro do ano passado. As aulas ocorrem no porão da casa onde mora o metalúrgico Aparecido Donizetti Fontes, 40, que cedeu o espaço gratuitamente.
Hoje, a cozinheira já é capaz de pegar ônibus sem pedir ajuda para ninguém. "Leio mal, mas leio. Não passo por besta. Antes me sentia como um cego." (AA)



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