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"Gonzagão não sabia o bê-á-bá'
da Reportagem Local
A pernambucana Maria da Silva,
que mora há apenas 13 meses em
Ribeirão Pires, acaba de fazer uma
"descoberta espetacular": Luiz
Gonzaga "falava errado".
"Sempre achei que o Lua fosse
um sabichão. Mas agora estou desconfiada de que o diabo do homem não conhecia o bê-á-bá",
diz a cozinheira de 32 anos, mãe de
cinco filhos.
A "ignorância do forrozeiro" se
revelou para Maria durante uma
aula do Mova. A professora lhe
propôs estudar "A Triste Partida", canção de Patativa do Assaré
que Gonzagão gravou.
A letra da música reproduz a fala
nordestina em versos como: "Nós
vamo a São Palo, que a coisa tá
feia/ por terras aleia/ nós vamo vagá/ se o nosso destino fô tão mesquinho/ pro mesmo cantinho/ nós
torna a vortá".
"Era assim mesmo que o danado cantava: vortá, vagá, vamo.
Mas está tudo errado. O certo é
voltar, vagar, vamos. O Gonzagão
confundia as palavras, e eu só percebi depois de velha", explica a
cozinheira.
Na verdade, o sanfoneiro sabia
ler e escrever, embora se apropriasse artisticamente do linguajar
popular.
Com mais 17 alunos, Maria frequenta o curso noturno do Mova
desde setembro do ano passado.
As aulas ocorrem no porão da casa
onde mora o metalúrgico Aparecido Donizetti Fontes, 40, que cedeu
o espaço gratuitamente.
Hoje, a cozinheira já é capaz de
pegar ônibus sem pedir ajuda para
ninguém. "Leio mal, mas leio.
Não passo por besta. Antes me
sentia como um cego."
(AA)
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