São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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POLÍCIA FORA DA LEI

Com aval da Justiça, Gradi conseguiu autorização para 151 saídas de presos que participaram de investigações

Agente da PM deixou presídio 68 vezes

ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça concedeu, em 13 meses, 151 autorizações para que o Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância) da Polícia Militar de São Paulo retirasse seis presos do Centro de Observação Criminológica para serem usados em investigações policiais. Só um dos detentos foi motivo de 68 autorizações e ficou 115 dias fora da cadeia.
As autorizações foram concedidas entre março de 2001 e abril de 2002, período em que o grupo esteve mais ativo, conforme revelou a Folha no domingo passado.
Do total, 68 saídas (45%) ocorreram na gestão do ex-secretário da Segurança Pública Marco Vinicio Petrelluzzi, e 83 (55%) na do atual secretário, Saulo de Castro Abreu Filho.
O levantamento das autorizações está descrito em uma certidão do Decrim (Departamento Técnico de Apoio ao Serviço de Execuções Criminais) de São Paulo, de julho deste ano, a qual a Folha teve acesso ontem.
Neste ano, depois da posse de Abreu Filho, os presos passaram a ficar mais tempo fora da prisão. A partir daí, ocorreram quatro das cinco operações do Gradi investigadas pela Ouvidoria das Polícias. A principal delas, que resultou na morte de 12 supostos membros do PCC, em Sorocaba (100 km de SP), em março, contou com a participação de quatro detentos.
As saídas são autorizadas pelo juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, Octávio Augusto Machado de Barros Filho. Em algumas situações, o juiz prorrogava os prazos por telefone.

Operações
Em uma primeira fase, os detentos recrutados pelo Gradi saíam da prisão para fazer ligações para a inteligência da PM. Ficavam na sede da unidade militar falando, pelo telefone, com parentes de presos, condenados ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e quadrilhas que estariam agindo a mando da facção.
Em um segundo momento, não-revelado pelos documentos obtidos pela Folha, os presos começaram a participar de operações externas com os PMs.
O preso M, assaltante de banco que funcionava como uma espécie de recrutador de outros detentos para a PM, é o campeão de saídas autorizadas, com 115 dias fora do presídio.
No levantamento do Decrim, ele é o primeiro dos seis presos identificados a sair da cadeia para trabalhar com a PM, no dia 29 de de março de 2001. A última autorização de saída dele é de 12 de abril de 2002, depois da suposta tortura de dois outros presos do COC que também colaboravam com o Gradi. A suposta tortura teria encerrado as saídas.
O preso G (33 saídas, no total de 80 dias), X (23 autorizações e 27 dias) e Y (22 autorizações e 26 dias) também estão na lista do Decrim. Outros dois presos do COC somam cinco autorizações.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), João José Sady, criticou o grande número de saídas e ausência de justificativa nos pedidos. "Nas autorizações, só existem pedidos para oitivas ou diligências. O verdadeiro motivo foi escondido."
Ontem, a Folha tentou falar com o juiz-corregedor, mas não conseguiu. Barros Filho tem afirmado que desconhecia as infiltrações de presos. A assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou que as ações do Gradi foram realizadas com o conhecimento e autorização da Justiça.



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