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POLÍCIA FORA DA LEI
Com aval da Justiça, Gradi conseguiu autorização para 151 saídas de presos que participaram de investigações
Agente da PM deixou presídio 68 vezes
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça concedeu, em 13 meses, 151 autorizações para que o
Gradi (Grupo de Repressão e
Análise dos Delitos de Intolerância) da Polícia Militar de São Paulo retirasse seis presos do Centro
de Observação Criminológica para serem usados em investigações
policiais. Só um dos detentos foi
motivo de 68 autorizações e ficou
115 dias fora da cadeia.
As autorizações foram concedidas entre março de 2001 e abril de
2002, período em que o grupo esteve mais ativo, conforme revelou
a Folha no domingo passado.
Do total, 68 saídas (45%) ocorreram na gestão do ex-secretário
da Segurança Pública Marco Vinicio Petrelluzzi, e 83 (55%) na do
atual secretário, Saulo de Castro
Abreu Filho.
O levantamento das autorizações está descrito em uma certidão do Decrim (Departamento
Técnico de Apoio ao Serviço de
Execuções Criminais) de São Paulo, de julho deste ano, a qual a Folha teve acesso ontem.
Neste ano, depois da posse de
Abreu Filho, os presos passaram a
ficar mais tempo fora da prisão. A
partir daí, ocorreram quatro das
cinco operações do Gradi investigadas pela Ouvidoria das Polícias.
A principal delas, que resultou na
morte de 12 supostos membros
do PCC, em Sorocaba (100 km de
SP), em março, contou com a participação de quatro detentos.
As saídas são autorizadas pelo
juiz-corregedor dos presídios de
São Paulo, Octávio Augusto Machado de Barros Filho. Em algumas situações, o juiz prorrogava
os prazos por telefone.
Operações
Em uma primeira fase, os detentos recrutados pelo Gradi saíam
da prisão para fazer ligações para
a inteligência da PM. Ficavam na
sede da unidade militar falando,
pelo telefone, com parentes de
presos, condenados ligados ao
PCC (Primeiro Comando da Capital) e quadrilhas que estariam
agindo a mando da facção.
Em um segundo momento,
não-revelado pelos documentos
obtidos pela Folha, os presos começaram a participar de operações externas com os PMs.
O preso M, assaltante de banco
que funcionava como uma espécie de recrutador de outros detentos para a PM, é o campeão de saídas autorizadas, com 115 dias fora
do presídio.
No levantamento do Decrim,
ele é o primeiro dos seis presos
identificados a sair da cadeia para
trabalhar com a PM, no dia 29 de
de março de 2001. A última autorização de saída dele é de 12 de
abril de 2002, depois da suposta
tortura de dois outros presos do
COC que também colaboravam
com o Gradi. A suposta tortura teria encerrado as saídas.
O preso G (33 saídas, no total de
80 dias), X (23 autorizações e 27
dias) e Y (22 autorizações e 26
dias) também estão na lista do
Decrim. Outros dois presos do
COC somam cinco autorizações.
O coordenador da Comissão de
Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
João José Sady, criticou o grande
número de saídas e ausência de
justificativa nos pedidos. "Nas autorizações, só existem pedidos para oitivas ou diligências. O verdadeiro motivo foi escondido."
Ontem, a Folha tentou falar
com o juiz-corregedor, mas não
conseguiu. Barros Filho tem afirmado que desconhecia as infiltrações de presos. A assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou que as ações do Gradi foram realizadas com o conhecimento e autorização da Justiça.
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