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AMBIENTE
Organoclorados foram encontrados no leite de três mães
Crianças de Paulínia podem ter sido contaminadas em amamentação
MÁRIO ROSSIT
EDITOR-ASSISTENTE DA FOLHA CAMPINAS
A Vigilância Sanitária de Paulínia (126 km de São Paulo) suspeita que crianças do bairro Recanto
dos Pássaros foram contaminadas por pesticidas durante a amamentação. O bairro foi contaminado por organoclorados produzidos pela Shell Brasil S.A. até a
década de 80.
Segundo o médico toxicologista
da Prefeitura de Paulínia Igor
Vassilief, no leite de três mães que
estavam amamentando no período da coleta do material para a
biópsia -uma delas ainda permanece morando no bairro- foram encontrados organoclorados
(BHC, aldrin e DDT).
Os exames no leite foram realizados com as biópsias de gordura,
segundo Vassilief. O resultado foi
apresentado anteontem pela Vigilância Sanitária de Paulínia.
Em relatório médico anterior,
realizado pelo Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista), 56% (28) das 50 crianças analisadas tinham algum tipo
de contaminação por organoclorados. Para a diretora da Vigilância Sanitária de Paulínia, Claudia
Regina Guerreiro, a contaminação pode ter vindo do leite materno. "É claro que há ainda outros
fatores, como o solo, a água e os
produtos que eram ingeridos."
A Secretaria da Saúde de Paulínia confirmou, anteontem, por
meio de exames de biópsia, a contaminação crônica por pesticidas
fabricados pela Shell Brasil S.A.
em 120 moradores. Os exames foram feitos pelo Instituto de Química da USP, do campus de São
Carlos, em São Paulo.
Segundo exames, o DDT foi detectado em 25 pessoas (21%), o
DDE, em 120 (100%), o aldrin, em
11 (9%), o dieldrin, em 25 (21%), o
BHC, em 93 (77,5%), e o hexaclorobenzeno, em 113 (94%).
A Shell informou ontem, por
meio de nota, que não comentaria exames a que não teve acesso.
Para o coordenador do Ceatox
da USP, Anthony Wong, a contaminação das crianças pelo leite
materno pode ocorrer. "Os organoclorados ficam armazenados
na gordura do leite materno. Em
outros países, esse tipo de contaminação já foi constatado", disse.
Contaminação
A Shell iniciou suas atividades
no bairro na década de 70 e nos
anos 80 fechou a unidade. Em
1994, decidiu vender a área. Uma
auditoria ambiental constatou a
contaminação por drins (pesticidas) nas águas subterrâneas. Em
janeiro de 2001, a empresa reconheceu a contaminação de chácaras e ofereceu-se para comprar a
produção de hortaliças.
Colaborou Diogo Pinheiro, da Folha
Campinas
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