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GUERRA SEM TRINCHEIRA
Crimes ocorrem principalmente no horário de folga; profissão é mais arriscada no Brasil que na Colômbia
País tem um policial morto a cada 17 horas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A cada 17 horas um policial civil
ou militar é assassinado no Brasil,
estando em folga ou em serviço.
Entre janeiro e a primeira quinzena de julho, pelo menos 281 policiais civis e militares foram mortos, segundo levantamento feito
pela Folha em 26 Estados e no
Distrito Federal com dados das
secretarias estaduais de Segurança e de corporações policiais. Os
números de São Paulo e Minas
Gerais foram repassados por sindicatos e associações de policiais.
Comparado a outros países, o
número é alto. Nos EUA, 34 policiais foram mortos no período.
Na Colômbia, que enfrenta uma
guerrilha desde a década de 40, foram 65. Na Grã-Bretanha, apenas
um policial foi morto neste ano.
Mais da metade dos policiais
(197, 71%) assassinados no Brasil
não estava em serviço. A Polícia
Militar apresenta o maior número
de baixas, 225 -176 em folga. A
Polícia Civil teve 56 assassinados,
35 no horário de trabalho. Um
policial é morto em folga nas mais
diversas situações. É freqüente a
morte no bico de segurança.
Pelo levantamento, o Rio é o Estado onde ocorreu o maior número de mortes, 81 (69 PMs e 12 civis). São Paulo vem em 2º, com 59
mortes- 51 na PM e oito na Civil.
Na Bahia, que ficou em 3º, a
maioria dos policiais mortos fora
do serviço reagiu a roubos em
ônibus, como o PM Armando Lima, que, em 7 de fevereiro, tentou
tomar a arma do ladrão.
Outro risco é o policial ter a função descoberta por criminosos.
Foi o caso do inspetor Marcel Leal
Layson, da Polícia Civil. Em 21 de
fevereiro, ele foi parado em falsa
blitz na rodovia Rio-Santos, em
Mangaratiba (70 km do Rio). Ao
verem a carteira policial, os criminosos o mataram.
Muitos morrem por vingança.
Entre janeiro e fevereiro, os policiais civis mineiros Sidrack Correia da Rocha, Anderson Eustáquio Fernandes, Marcos Antônio
Paixão e Delson Rocha da Piedade foram alvo de criminosos que
haviam prendido.
No Rio, boa parte das mortes de
policiais em serviço não ocorre
em confronto com criminosos,
mas em ataques de traficantes. Há
duas semanas, os PMs Sadi Silva
Damásio e Luís Alberto Ramos
dos Santos Júnior foram metralhados durante patrulha na avenida Radial Oeste (zona norte).
No último dia 9, os policiais
Alex Bezerra Chaves e Carlos Alberto da Silva foram mortos por
traficantes quando estavam parados em frente ao Norte Shopping.
Olho por olho
"Morre mais policial no Brasil
porque as autoridades combatem
a violência com violência. Com isso, há muitas mortes em ambos
os lados. Mesmo que 70% tenham
sido de folga, os outros 30% representam um índice muito alto",
diz a socióloga Julita Lemgruber.
Para o sociólogo Eduardo Cerqueira, da Fundação João Pinheiro, vinculada ao governo mineiro,
morrem mais policiais aqui que
nos EUA porque os americanos
respeitam mais as autoridades.
"Nos EUA, uma pessoa pensa
duas vezes antes de atacar um policial, sua pena pode ser multiplicada. No Brasil, se o indivíduo
atacar um policial, só é preso imediatamente se for flagrante."
O pesquisador Gláucio Soares,
do Iuperj (Instituto Universitário
de Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro), disse não ser surpresa o
Brasil ter mais policiais mortos
que os EUA. "O índice de homicídios aqui é três vezes maior que lá.
Com isso, os policiais brasileiros
têm três vezes mais chances de serem mortos."
O dado de policiais assassinados nos EUA foi obtido no site Office Down Memorial Page
(www.odmp.org), que reúne dados da polícia norte-americana,
do Canadá e de países europeus.
Na Colômbia, os números são
da Agência Nacional de Notícias
Policiais. Na Grã-Bretanha, as informações saíram do site
www.policememorial.org.uk.
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