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"Rui Falcão não é nosso chefe", afirma Cardozo
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Câmara Municipal, José Eduardo Martins Cardozo (PT), rebateu as críticas que recebeu do secretário municipal de Governo, Rui Falcão, dizendo
que ele "não é o chefe dos vereadores". Cardozo disse que lhe causa estranheza o fato de Falcão, em sua visão, defender as emendas ao Plano Diretor que mudaram o zoneamento da cidade.
Falcão havia insinuado, em entrevista à Folha, que o presidente
da Câmara não havia lido o projeto do Plano Diretor.
Folha - O sr. leu o projeto do Plano Diretor antes de votar?
José Eduardo Martins Cardozo -
Uma parte do projeto, sim. Havia
várias versões do substitutivo e
nós vínhamos lendo à medida
que evoluíam as coisas. O problema se deu na madrugada, quando
fechou-se a versão final e o vereador Nabil Bonduki (PT) nos informou que a liderança do governo havia pedido a inclusão de
emendas que mudavam o zoneamento. Ele deixou claro que havia
recebido as emendas àquela hora
e que era impossível aprofundar o
estudo delas.
Ficou claro para nós que o Plano Diretor era importante para a
cidade e precisaria ser aprovado.
Ou seja: 99% do plano era extremamente positivo. Porém, 1% do
plano, as emendas, tinham passado por um método de inclusão
que achávamos muito ruim.
Só tínhamos duas alternativas,
já que o regimento interno não
prevê voto com ressalva: aprovar
ou rejeitar, o que seria desastroso
para a cidade. Por causa disso, votamos favoravelmente. Mas, como a bancada não participou desse processo de negociação, nos
sentimos absolutamente à vontade para pedir à prefeita que, pelo
veto, retire esse 1% ruim.
Folha - Mas não é uma contradição votar e depois pedir o veto?
Cardozo - Seria contraditório se
achássemos que o projeto é ruim.
Achamos que ele é bom, há apenas alguns dispositivos ruins.
Folha - A carta com o pedido de
veto foi feita pelo PSDB?
Cardozo - Não, a carta foi elaborada em comum acordo entre vereadores de vários partidos.
O problema é democrático e político. Porque é errado aprovar
mudanças de zoneamento da forma como essas mudanças foram
aprovadas, sem discussão com a
sociedade. Também é errado que
tenhamos sabido das emendas
apenas no momento da votação.
Acho curioso que o secretário
tenha manifestado irritação com
o fato de termos uma posição política. Defendemos o governo
Marta Suplicy de forma intransigente. Mas não se pode confundir
apoio com submissão. Temos direito de manifestar nossa opinião.
Também me causa espécie que
o secretário pareça aplaudir esse
tipo de postura, em que parlamentares negociam a aprovação
de um plano como esse em troca
de mudanças pontuais no zoneamento. Pelo que entendo, ele considera isso legítimo, enquanto a
manifestação de vereadores de
seu partido, sugerindo o veto, ele
entende como ilegítima.
Folha - Houve algum contato do
relator com o secretário sobre essas emendas?
Cardozo - O que sei é que o Nabil
disse que era contra as emendas,
mas a liderança do governo afirmava que, se não as incluísse no
substitutivo, o plano não seria
aprovado. E naquele momento
estavam presentes o [José" Mentor e o [Arselino" Tatto, e disseram que era isso mesmo.
Folha - A bancada do PT tem divergências sobre alguns projetos,
mas parece que agora há um racha.
O que acontece?
Cardozo - Na bancada há divergências e convergências, mas nada que quebre nossa ação em defesa do governo da prefeita. O Legislativo não é cartório de homologação do Executivo. Apoiamos
o governo, mas não somos submissos. O secretário Rui Falcão
não é nosso chefe.
Surpreende-me o fato de o secretário achar que foi correto o
processo de negociação, ele imaginar que há rebelião e que estejamos pensando de forma diferente. Acho que o secretário tem de meditar um pouco sobre isso.
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