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São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2003

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Para delegado, mais que crime, é tragédia humana

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eram duas crianças com sonhos diferentes."
Dessa maneira o delegado Roberto Pacheco de Toledo definiu ontem as mortes de Camila Palini Duarte, 23, e de Higor Aparecido Catirsi, 22.
Com 20 anos de polícia, Toledo considera que o assassinato seguido de suicídio que está sob sua responsabilidade -ele é o titular do 9º DP, que cuida do crime- é muito mais do que "apenas" um caso policial. "Trata-se de uma tragédia humana, que choca a todos nós. São duas famílias destroçadas, uma comunidade apreensiva. Minha preocupação agora é se algum energúmeno fazer algo parecido."
O delegado confirma informações colhidas pela Folha segundo as quais a tragédia perpetrada no shopping center foi o desfecho premeditado -Higor ligou para a casa de Camila na tarde de anteontem e avisou que iria fazer "uma loucura"- de uma relação no mínimo atribulada.
As divergências entre o casal, frequentes ao longo dos dois anos e meio de namoro, ficaram ainda mais exacerbadas quando ela resolveu terminar. Atingiram o ápice quando ela começou a namorar outro rapaz.
Mas essa imagem de Higor não é uma unanimidade.
De um lado, há amigos e parentes de Camila afirmando que o namoro da auxiliar de vendas com o estudante de direito (4º ano das Faculdades Integradas de Guarulhos) foi marcado por cenas de ciúmes e, não raro, de violência por parte dele, que inclusive teria simulado suicídio.
De outro, amigos e parentes de Higor afirmando que ele era um rapaz quieto, estudioso, calmo.
Essa versão sobre o temperamento foi dada pelo pai dele, Carlos ("Era um moleque educado, calmo, calmo até demais."), por uma amiga, Adriana Silva ("Calmo, trabalhador e estudioso.") e por um colega de escola que não quis se identificar ("Não dá para entender o que aconteceu.").
Mas colegas de Camila na C&A do Center Norte, que também preferiram o anonimato por conta de um veto da direção da loja, informaram que ele costumava ameaçar a moça e foi ao ponto de agredi-la com um soco na testa, menos de um mês atrás.
"Ela chegou a perder outros empregos por causa dele, que vivia dando escândalo", afirma o amigo da família dela, Samuel Silva.
"Ele a agrediu aqui na porta da nossa loja", disse outro conhecido de Camila, Rodivalri Tacinari.
Também o delegado Toledo não tem dúvidas de que "ele tinha uma postura agressiva. Incomodava, fazia escândalo na porta da casa dela, ficava telefonando."
Teria sido por causa da repetição desse tipo de comportamento que a família de Camila não levou a sério quando ele afirmou na segunda-feira que iria se encontrar com ela e fazer "uma loucura".


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