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Para delegado, mais que crime, é tragédia humana
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eram duas crianças com sonhos diferentes."
Dessa maneira o delegado Roberto Pacheco de Toledo definiu
ontem as mortes de Camila Palini
Duarte, 23, e de Higor Aparecido
Catirsi, 22.
Com 20 anos de polícia, Toledo
considera que o assassinato seguido de suicídio que está sob sua
responsabilidade -ele é o titular
do 9º DP, que cuida do crime- é
muito mais do que "apenas" um
caso policial. "Trata-se de uma
tragédia humana, que choca a todos nós. São duas famílias destroçadas, uma comunidade apreensiva. Minha preocupação agora é
se algum energúmeno fazer algo
parecido."
O delegado confirma informações colhidas pela Folha segundo
as quais a tragédia perpetrada no
shopping center foi o desfecho
premeditado -Higor ligou para
a casa de Camila na tarde de anteontem e avisou que iria fazer
"uma loucura"- de uma relação
no mínimo atribulada.
As divergências entre o casal,
frequentes ao longo dos dois anos
e meio de namoro, ficaram ainda
mais exacerbadas quando ela resolveu terminar. Atingiram o ápice quando ela começou a namorar outro rapaz.
Mas essa imagem de Higor não
é uma unanimidade.
De um lado, há amigos e parentes de Camila afirmando que o
namoro da auxiliar de vendas
com o estudante de direito (4º ano
das Faculdades Integradas de
Guarulhos) foi marcado por cenas de ciúmes e, não raro, de violência por parte dele, que inclusive teria simulado suicídio.
De outro, amigos e parentes de
Higor afirmando que ele era um
rapaz quieto, estudioso, calmo.
Essa versão sobre o temperamento foi dada pelo pai dele, Carlos ("Era um moleque educado,
calmo, calmo até demais."), por
uma amiga, Adriana Silva ("Calmo, trabalhador e estudioso.") e
por um colega de escola que não
quis se identificar ("Não dá para
entender o que aconteceu.").
Mas colegas de Camila na C&A
do Center Norte, que também
preferiram o anonimato por conta de um veto da direção da loja,
informaram que ele costumava
ameaçar a moça e foi ao ponto de
agredi-la com um soco na testa,
menos de um mês atrás.
"Ela chegou a perder outros empregos por causa dele, que vivia
dando escândalo", afirma o amigo da família dela, Samuel Silva.
"Ele a agrediu aqui na porta da
nossa loja", disse outro conhecido
de Camila, Rodivalri Tacinari.
Também o delegado Toledo
não tem dúvidas de que "ele tinha
uma postura agressiva. Incomodava, fazia escândalo na porta da
casa dela, ficava telefonando."
Teria sido por causa da repetição desse tipo de comportamento
que a família de Camila não levou
a sério quando ele afirmou na segunda-feira que iria se encontrar
com ela e fazer "uma loucura".
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