São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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DANUZA LEÃO

Apenas um problema de idioma


Quando um homem diz "te amo", pode ser traduzido de 500 maneiras, só que mulher ouve sempre da mesma

VIVER É complicado? É, um pouco. Por culpa de quem? Dos outros? Não: nossa.
E como melhorar a vida? Sabendo que todos temos um código, e no momento em que passamos a conhecer o do outro -os dos outros, aliás-, tudo fica mais fácil. Se dentro da família entender o código de cada um é difícil, não entender é como viver em um universo em que diferentes idiomas são falados dentro da mesma casa.
Sabe quando você recebe um telefonema de manhã e subitamente ouve a frase "te ligo mais tarde, quem sabe a gente vai jantar?" Ela pode querer dizer várias coisas; pode ser apenas uma desculpa para desligar, porque o celular está tocando; pode ser que o assunto não esteja interessando e pode até ser que ele esteja mesmo querendo jantar com você. E pode também, claro, não querer dizer nada.
Os horários, por exemplo; um encontro marcado para nove da noite pode significar nove e meia, entre dez e meia e 11 e, em alguns casos, até nove horas mesmo. Agora, pense: se você conseguir decodificar o idioma daquela pessoa, nunca vai se irritar.
Sabendo que quando ele diz nove quer dizer 11, dá para assistir o telejornal, a novela, tomar um banho demorado e ficar pronta às 10h45, pois sabe que quando ele diz nove está querendo dizer 11, certo? São essas filigranas que desgastam uma relação, e é preciso fazer todos os esforços para evitar que isso aconteça. Os esforços têm que ser da mulher, claro, pois é sempre ela quem tem que compreender (e aceitar).
Um capítulo sujeito a muitos mal-entendidos é o do amor. Quando um homem diz "eu te amo", isso pode ser traduzido de umas 500 maneiras, só que as mulheres costumam ouvir sempre da mesma. A mais freqüente é ele dizer "eu te amo" e ela ouvir "quero me casar com você", sendo que a maior parte das vezes ele diz "eu te amo" querendo dizer apenas "quero ir para a cama com você".
Complicado, não? Por essas e outras são tão difíceis as relações amorosas, e na hora da separação, dá no que dá. Voltemos ao "eu te amo".
Essa declaração de amor, digamos assim, pode também querer dizer que ele está te amando naquele momento, sem que isso signifique, necessariamente, que pretenda fundar um lar. E dependendo do quanto bebeu, com a luz e a música certas, pode até pintar uma proposta de morarem juntos, o que não quer dizer que ela deva levar ao pé da letra o que ouviu -e é melhor mesmo que não leve. Mas mulheres a-do-ram serem pedidas em casamento, e costumam cobrar tudo que é dito, sobretudo em momentos mais, digamos, românticos.
Começa com um "na sua casa ou na minha?", e dependendo de estarem na segunda ou terceira garrafa de vinho, em meia hora estarão discutindo sobre se vão usar o mesmo computador ou se é melhor cada um ter o seu. E o cachorro, vai?
E o gato, fica? Na manhã seguinte -segunda-feira- ela acorda outra mulher e passa o dia fazendo planos.
Quanto a ele -bem, todos sabem que o álcool provoca uma grande amnésia, sobretudo nos homens. Ele acorda e sai todo lampeiro, volta para seu adorado espaço e vai ficar espantado quando telefonar à noite dizendo que está exausto, "vamos deixar para nos ver amanhã", e ela responder de mau humor.
Homem e mulher, uma encrenca; mas se um dia eles falarem a mesma língua pode até ser que comecem a se entender.
Mas também pode acontecer de ficar tudo muito sem graça.


danuza.leao@uol.com.br

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