São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011

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IML contradiz Rota e levanta nova suspeita sobre atentado

Laudo afirma que suspeito de atacar sede da tropa tomou tiro nas costas

Pela versão oficial da PM, homem que atacou o prédio no ano passado havia sido baleado em um tiroteio frontal

ROGÉRIO PAGNAN

DE SÃO PAULO

Laudo produzido pelo IML (Instituto Médico Legal) levanta novas suspeitas sobre a versão segundo a qual a sede da Rota, tropa de elite da PM paulista, sofreu atentado em agosto do ano passado.
O documento inédito ao qual a Folha teve acesso mostra que o ex-presidiário Frank Ligieri Sons, 33, apontado como autor do atentado, morreu com um tiro nas costas.
A informação contradiz os policiais militares, que afirmam ter matado o suspeito durante um tiroteio frontal. Pelo laudo, um tiro atingiu o abdômen e outro entrou pelas costas, quase em linha reta, perfurando o coração.
Segundo peritos ouvidos pela Folha, não há possibilidade de o ferimento ter ocorrido num tiroteio frontal. Na semana passada, a Folha revelou a existência de um relatório de inteligência da Polícia Civil que aponta uma série de inconsistências na versão oficial do caso.
Entre elas: o desaparecimento do coquetel molotov que Sons estaria carregando, a não localização de projéteis dos tiros dados por ele e a existência de câmeras no local, apesar de a PM dizer que não há imagens do episódio.
Além dos pontos mencionados no relatório, no inquérito da Polícia Civil há outros "buracos" que também enfraquecem a versão oficial e, ao mesmo tempo, dificultam o esclarecimento do caso.
Um deles é não ter sido apreendido com o suspeito nenhum isqueiro ou fósforo a fim de que ele pudesse acender o coquetel molotov.
As roupas do ex-detento não foram apreendidas. Elas ajudariam a perícia a informar a distância dos tiros.

'BISONHO'
O ataque à Rota foi anunciado em agosto de 2010 , 17 horas depois de o comandante da tropa, o tenente-coronel Paulo Telhada, relatar também ter sofrido um ataque.
À época do suposto atentado, integrantes da Rota eram investigados em casos de corrupção e homicídios.
O governo acreditava, porém, que a tropa pudesse estar sendo alvo de uma série de represálias de bandidos.
Agora, porém, o próprio secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, admite a possibilidade de a sede da tropa não ter sofrido nenhum atentado. "Acho bastante bisonho alguém querer atacar o prédio da Rota com uma garrafa molotov", disse.
"Estou dizendo para vocês que a história não é convincente. Mas estamos diante de um desafio. Não tenho a intenção de dourar a pílula. Se for de fato [uma farsa], eles [os PMs] serão processados."


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