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DIREITOS HUMANOS
Asma Jahangir esteve no Espírito Santo e elogiou a organização da sociedade civil contra o crime organizado
Relatora da ONU critica lentidão da Justiça
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
A relatora especial para Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou
Arbitrárias da ONU (Organização
das Nações Unidas), a paquistanesa Asma Jahangir, disse ontem,
em Vitória, no Espírito Santo, que
o que mais a havia assustado no
Brasil era a "surdez e a morosidade da Justiça".
Jahangir terminou ontem sua
visita pelo Espírito Santo. "Não é
segredo. A impunidade é arraigada no Estado, mas ela não pode se
tornar um convite para o crime",
disse a relatora da ONU.
Depois de se reunir com os secretários da Segurança Pública e
da Justiça do Espírito Santo, Jahangir elogiou a organização da
sociedade civil contra o crime organizado no Estado.
"O meu trabalho é coletar informações. No Espírito Santo, foi
surpreendente a organização da
sociedade civil. As entidades já estão resolvendo o problema da
violência", afirmou.
Execuções sumárias
Anteontem, a relatora recebeu
do fórum "Reage Espírito Santo"
-que congrega a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) e organizações não-governamentais-
um relatório sobre crimes suspeitos de serem execuções sumárias.
O relatório entregue a Jahangir
foca atenção na Scuderie Le Cocq
-organização acusada de agir
como esquadrão da morte com a
participação de policiais civis.
O secretário da Segurança Pública, Rodney Rocha Miranda,
disse que foi muito positiva a troca de informações com a relatora
da ONU.
De acordo com ele, Jahangir
apontou pontos a serem melhorados, principalmente em relação à
agilidade dos processos judiciais,
mas que ela teria se impressionado com as medidas adotadas pelo
governo estadual para combater o
crime organizado dentro das instituições policiais.
Ontem, a relatora se encontrou
com o subprocurador-geral de
Justiça, José Marçal de Ataide Assi, que entregou um relatório sobre as ações do Ministério Público
contra o crime organizado no Estado. Além disso, foi dado para Jahangir um estudo sobre os atos do
Grupo de Repressão ao Crime Organizado contra a ação de policiais corruptos ou envolvidos em
casos de assassinatos seletivos.
Jahangir está no país desde o dia
16 de setembro colhendo informações sobre execuções sumárias
em sete Estados. Com as informações, será feito um relatório com
recomendações para a política de
combate ao crime organizado a
ser implantado pelo governo.
"Ainda não tive tempo de analisar todos os relatórios que recebi
sobre os crimes cometidos por
policiais, mas o Ministério Público me prometeu entregar dados
completos sobre os crimes suspeitos de terem a participação de
agentes", disse a relatora.
"Ato simbólico"
Ontem pela manhã, dois corpos
foram encontrados em uma praia
em Vila Velha (região metropolitana de Vitória). Os dois homens
estavam algemados e foram mortos com oito tiros cada um. Ambos tiveram os olhos arrancados.
A polícia trabalha com a hipótese de o crime ser uma execução
sumária motivada pela presença
de Jahangir no Espírito Santo.
De acordo com o subprocurador-geral de Justiça, "o crime parece ter sido um ato simbólico pela presença da relatora no Estado". Hoje, Jahangir deve ir para o
Rio de Janeiro e depois para Brasília, onde deve se encontrar com
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
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