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"A realidade é a melhor forma de viver o luto", diz psicóloga
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
"Eu sou favorável a falar
claramente para as pessoas
sobre a gravidade da situação
que elas estão enfrentando.
Que ninguém espere encontrar o corpo íntegro de um
parente morto, quando se sabe que só há fragmentos. É a
melhor forma de ajudar os
parentes a viver o luto." A
opinião é da psicoterapeuta
Solange Mesquita Gomes,
38, uma das profissionais
que estão assistindo as famílias das vítimas do vôo 1907.
Ela presta serviços a uma
empresa especializada em
gestão de crise, a Auster, que
foi contratada por nove companhias que têm funcionários entre as vítimas.
A reportagem da Folha
encontrou-a na porta do hotel Meliá, quando ela havia
acabado de atender um homem que perdeu o filho e
que, chorando, repetia: "O
meu menininho, que eu peguei no colo".
Já uma mulher de outro
passageiro reivindicava: "O
que eu quero é a cabeça do
meu marido, só isso".
Em meio ao drama, Mesquita explicou seu trabalho:
Desespero
Ontem, as famílias estavam muito angustiadas, desesperadas. Sem chão. Hoje,
estão mais tristes. Começaram a aceitar a perda dos familiares e estão um pouco
mais tranqüilas, começaram
a processar o luto.
Luto
Já está em um momento
em que as famílias podem
pensar: o sofrimento é muito
grande, mas se eu pudesse
escolher entre ter e não ter
esse filho que opção eu faria?
Ora, se eu estou sofrendo
tanto é porque valeu muito a
pena tê-la por perto. Agora
estou trabalhando em torno
da idéia de que talvez as vítimas não tenham sofrido.
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