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Obra corrige painel de Di Cavalcanti no Cultura Artística
Mosaico da fachada do teatro, que pegou fogo há
cerca de 2 anos, sofreu alterações indevidas nos anos 70
Ninguém sabe dizer quem modificou a obra de 1950, já que o local não dispõe de um registro de projeto
LETICIA DE CASTRO
DE SÃO PAULO
Os dedos da mão de uma
das musas sumiram. No lugar da ponte que segura as
cordas do violão, um estranho triângulo apareceu.
Alterações como essas,
constatadas no mosaico de
Di Cavalcanti na fachada do
teatro Cultura Artística, estão
sendo corrigidas, em restauro iniciado em junho.
As obras tiveram início
quase dois anos após o incêndio que destruiu, em
2008, o interior do teatro
paulistano, tombado pelos
órgãos municipal e estadual
do patrimônio. A fachada ficou apenas manchada.
As mudanças que descaracterizaram trechos do painel "Alegoria das Artes" foram constatadas durante a
pesquisa que embasou o projeto de restauro e são atribuídas a uma reforma realizada
no início dos anos 1970.
"Naquela época não havia
o tipo de tecnologia de restauro que se tem hoje", diz o
arquiteto Paulo Bruna, responsável pelo projeto de reconstrução do prédio.
Ninguém sabe o porquê da
modificação nem quem é o
responsável, pois o teatro
não tem registro do projeto.
"Para nós, foi uma surpresa", diz o diretor de relações
institucionais, Eric Klug.
A Vidrotil, fabricante de
pastilhas e que montou o mosaico original, em 1950, informou que forneceu as peças mas não participou da
obra na década de 1970.
Para voltar ao original, a
arquiteta Isabel Ruas, responsável pelo restauro -que
deve durar um ano-, consultou fotos antigas e os desenhos originais do pintor.
"Optamos por reconstituir
aquilo que havia sido descaracterizado", disse.
Além da correção de detalhes do desenho, o restauro
está recuperando rachaduras, substituindo pastilhas
que caíram e injetando resina para fixar o mural à argamassa que dá sustentação.
"Alegoria das Artes" é o
maior mosaico produzido
por Di Cavalcanti, com 48m
de largura por 8m de altura.
COMUM
Situações como essa, de
reformas que alteram obras
tombadas, são frequentes em
São Paulo. "Quase todos os
diagnósticos que fiz de prédios históricos no centro detectaram algum tipo de mudança nas características originais", diz Francisco Zorzette, diretor da Companhia de
Restauro, que fez a restauração de prédios como o Palácio da Indústrias e o Monumento à Independência.
Mudança de cores e tipo de
tintas das fachadas ou a inclusão de novos elementos
decorativos são alguns dos
casos mais comuns.
Para o arquiteto Carlos
Faggin, professor da FAU e
conselheiro do Condephaat,
é importante que esses equívocos sejam corrigidos. "Hoje temos técnicas mais avançadas e mão de obra mais especializada", diz.
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