São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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Obra corrige painel de Di Cavalcanti no Cultura Artística

Mosaico da fachada do teatro, que pegou fogo há cerca de 2 anos, sofreu alterações indevidas nos anos 70

Ninguém sabe dizer quem modificou a obra de 1950, já que o local não dispõe de um registro de projeto

LETICIA DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Os dedos da mão de uma das musas sumiram. No lugar da ponte que segura as cordas do violão, um estranho triângulo apareceu.
Alterações como essas, constatadas no mosaico de Di Cavalcanti na fachada do teatro Cultura Artística, estão sendo corrigidas, em restauro iniciado em junho.
As obras tiveram início quase dois anos após o incêndio que destruiu, em 2008, o interior do teatro paulistano, tombado pelos órgãos municipal e estadual do patrimônio. A fachada ficou apenas manchada.
As mudanças que descaracterizaram trechos do painel "Alegoria das Artes" foram constatadas durante a pesquisa que embasou o projeto de restauro e são atribuídas a uma reforma realizada no início dos anos 1970.
"Naquela época não havia o tipo de tecnologia de restauro que se tem hoje", diz o arquiteto Paulo Bruna, responsável pelo projeto de reconstrução do prédio.
Ninguém sabe o porquê da modificação nem quem é o responsável, pois o teatro não tem registro do projeto. "Para nós, foi uma surpresa", diz o diretor de relações institucionais, Eric Klug.
A Vidrotil, fabricante de pastilhas e que montou o mosaico original, em 1950, informou que forneceu as peças mas não participou da obra na década de 1970.
Para voltar ao original, a arquiteta Isabel Ruas, responsável pelo restauro -que deve durar um ano-, consultou fotos antigas e os desenhos originais do pintor. "Optamos por reconstituir aquilo que havia sido descaracterizado", disse.
Além da correção de detalhes do desenho, o restauro está recuperando rachaduras, substituindo pastilhas que caíram e injetando resina para fixar o mural à argamassa que dá sustentação.
"Alegoria das Artes" é o maior mosaico produzido por Di Cavalcanti, com 48m de largura por 8m de altura.

COMUM
Situações como essa, de reformas que alteram obras tombadas, são frequentes em São Paulo. "Quase todos os diagnósticos que fiz de prédios históricos no centro detectaram algum tipo de mudança nas características originais", diz Francisco Zorzette, diretor da Companhia de Restauro, que fez a restauração de prédios como o Palácio da Indústrias e o Monumento à Independência.
Mudança de cores e tipo de tintas das fachadas ou a inclusão de novos elementos decorativos são alguns dos casos mais comuns.
Para o arquiteto Carlos Faggin, professor da FAU e conselheiro do Condephaat, é importante que esses equívocos sejam corrigidos. "Hoje temos técnicas mais avançadas e mão de obra mais especializada", diz.


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