São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

Próximo Texto | Índice

POLÊMICA
Na avaliação final dos médicos, tanto o parto como o aborto eram possíveis; família optou pela interrupção
Menina estuprada vai mesmo abortar

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

C.B.S., a menina de 10 anos de Israelândia (GO) que engravidou depois de ter sido estuprada durante três anos por dois vizinhos, vai interromper sua gravidez.
A decisão foi tomada ontem pela comissão de nove profissionais que integra o Programa de Abortamento Legal do módulo 12 do PAS (Programa de Atendimento à Saúde), onde funciona o Hospital Jabaquara.
"A família já foi informada da decisão e optou pelo aborto. Essa era uma gravidez indesejada, tanto pela família quanto pela menina. Ela tem direito legal de interromper essa gravidez", disse o ginecologista Jorge Andalaft Neto, médico que integra a comissão.
C.B.S. continuará internada no hospital, onde será dado início dos procedimentos de preparação para a interrupção da gravidez. No entanto, a data para a interrupção não foi divulgada.
O ginecologista preferiu não informar que método será utilizado para a realização do aborto.
O método mais comum é a aspiração (quando o feto é sugado do útero). Mas como a gravidez de C.B.S. já é de 18 semanas, a aspiração está descartada.
Outra possibilidade, a minicesariana, também está descartada porque o hospital não realiza esse tipo de intervenção cirúrgica.
"Há um procedimento ético do médico que nos impede de dar esse tipo de informação sobre o tratamento do paciente", afirmou Andalaft.
Segundo a comissão, a menor teria condições de levar a gravidez até o fim.
A clínica-geral Maria Luiza Righetti, coordenadora do programa, disse que uma grávida de dez anos sempre está exposta a riscos. "A bacia de uma menina de dez anos ainda não está definitivamente formada e, se a gravidez prosseguisse, provavelmente o parto seria por uma cesariana."
O ultra-som, realizado quarta-feira, confirmou a idade gestacional do feto em 18 semanas e o sexo, masculino.
C.B.S. terá de fazer um jejum de oito horas antes de a intervenção ser realizada. Ontem, ela também passou por exames odontológicos.
Seu teste de HIV deu negativo. O mesmo resultado foi obtido para exames para detectar anemia e hepatite. Essa bateria de exames é realizada em todas as mulheres grávidas. No caso de C.B.S., o teste para detectar HIV e doenças sexualmente transmissíveis era mais importante pelo fato de a menina ter sido estuprada.
Segundo o protocolo da Organização Mundial da Saúde, a interrupção de uma gestação de até 20 semanas é considerada abortamento. O módulo 12 do PAS prefere realizar abortos com até 12 semanas, quando o risco para a paciente é menor. De acordo com Andalaft, C.B.S. não corre riscos específicos no procedimento. "Quando se usa a anestesia, sempre há riscos. Mas o procedimento que nós vamos usar com a menina será o menos invasivo possível."



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.