São Paulo, Quarta-feira, 03 de Novembro de 1999
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SHOWMISSA

Público superou a previsão dos organizadores, e religioso encerrou a celebração 40 minutos antes

Padre reduz evento por medo de tumulto

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Mulher passa mal e é levada para ambulatório no local da missa


da Reportagem Local



O padre Marcelo Rossi decidiu encerrar o evento católico de ontem 40 minutos antes do previsto. O motivo foi o temor de que ocorresse uma tragédia devido ao grande número de pessoas que continuava se dirigindo ao Santuário do Terço Bizantino.
"Pelas previsões, imaginava no máximo a presença de 300 mil pessoas. Quando ouvi da CET que havia 450 mil pessoas, fiquei apreensivo. Quando ouvi a última informação, às 10h30, de que havia 600 mil pessoas, me desesperei e resolvi acabar tudo mais cedo", declarou o padre Marcelo Rossi após a missa.
Inicialmente previsto para acabar ao meio-dia, o evento foi encerrado por volta das 11h20, após a apresentação das duplas sertanejas Chitãozinho e Xororó e Sandy e Júnior.
Desde o início do ato, por volta das 8h, Marcelo Rossi era informado do tamanho do público pela Polícia Militar e pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Também era informado do número de pessoas atendidas pelo departamento médico e de eventuais ocorrências policiais.
Com esses dados, ele controlava a multidão e procurava evitar confusões. Quando soube que o público havia ultrapassado o previsto, padre Marcelo começou a pedir que as pessoas não se dirigissem mais ao templo.
"Por favor, não venha mais para cá. Tem muita gente e você não vai conseguir chegar perto. Veja pela TV, também é ao vivo", advertiu padre Marcelo por volta das 10h30.
Ele considera que o bom tempo foi um dos fatores que contribuíram para a superlotação. "Você já viu um dia de Finados com tanto sol. Nessa época, normalmente chove, mas hoje (ontem) o dia está lindo", comemorou.
Após o evento, padre Marcelo Rossi admitiu que chegou a ficar com medo, pois não esperava a presença de tanta gente. Temia que perdesse o controle da massa.
"Se não fosse um evento religioso, eu não arriscaria. Aqui há diálogo, há respeito, a chance de ocorrerem brigas e tumultos é menor do que em outros eventos que reúnem muita gente", afirmou o padre. "Mesmo assim, da próxima vez vou utilizar um local com uma estrutura melhor. Valeu a experiência."
O temor do padre Marcelo tinha razão. As pessoas estavam espremidas nas quatro ruas que formavam a cruz. Muitas vezes, houve empurra-empurra provocado por pessoas que tentavam sem sucesso se aproximar do palco.
A Polícia Militar e a Guarda Municipal reduziram a área livre ao redor do palco, por volta das 11h, após um princípio de tumulto.
Muita gente preferiu ir embora antes mesmo de a missa começar e assistir o evento pela TV. Foi o caso da dona-de-casa Iraci Cardoso, 56, que pegou trem de madrugada em Carapicuíba (Grande São Paulo) só para ver a missa e desistiu assim que chegou ao santuário. ""Não tem condição de ouvir nada ou de ficar no meio do tumulto", afirmou.

Pop star
Mas, para evitar que a confusão se espalhasse, padre Marcelo conduziu a massa como um pop star.
Pediu cuidado a um grupo de adolescentes que escalou árvores e prédios para ver melhor o show. Em seguida, parou uma sequência de músicas para liberar a cabine de som que estava sendo ocupada pelo público.
Ao cantar o refrão ""erguei as mãos e dai glória a Deus", gritou ""sem pulinho, não precisa pular", contrariando sua característica de movimentar a platéia. A intenção era evitar novos tumultos.
Quando a situação parecia incontrolável e a polícia recuava para perto do palco, o padre puxou uma oração em coro para acalmar os ânimos.
Sem poder coordenar a coreografia, por causa da falta de espaço, o padre improvisou uma competição de torcida. Perguntava o que o público estava fazendo ali e esperava a resposta ""Eu vim louvar o Senhor", refrão de uma de suas músicas. Competiam as pessoas que estavam nas quatro partes da cruz. (ALESSANDRO SILVA e OTÁVIO CABRAL)





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