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PSIQUIATRIA
Emprego do método não é unânime na área
Profissionais defendem o uso do eletrochoque para depressivos
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
Muitos pacientes com depressão grave teriam evitado o suicídio se tivessem tido acesso ao eletrochoque. Empregada adequadamente, a convulsoterapia -como o procedimento é chamado- continua sendo o meio mais
certo de livrar da morte pacientes
com depressão séria que não respondem mais aos medicamentos.
A defesa do eletrochoque pode
parecer fora de propósito depois
de o método ter sido condenado
como desumano e injustificável
ao longo de mais de uma década.
As posições estão mudando. A
importância dessa prática foi destacada no 19º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que termina hoje em Recife. "Muitas pessoas podem se beneficiar desse tratamento, que já salvou incontáveis vidas", diz Marco Antonio Alves
Brasil, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Ele acaba de assumir a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Um dos propósitos da nova direção é garantir que o psiquiatra
possa empregar o método que
achar necessário para salvar seu
paciente e que o SUS inclua a convulsoterapia em sua tabela.
"Inventado" no final dos anos
30, o eletrochoque foi empregado
em dezenas de instituições no
Brasil. A partir de meados de
1980, passou a ser condenado por
profissionais e associações de pacientes e de direitos humanos.
Hoje, a eletroconvulsoterapia
vem sendo retomada nos institutos de psiquiatria dos principais
hospitais universitários em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte.
Estima-se que uma centena de
pessoas esteja recebendo esse tratamento. "Defendemos a criação
de serviços em centros modernos
que possam oferecer a técnica
com segurança e total respeito ao
paciente", diz Brasil.
A pessoa (ou familiar) assina
um termo de consentimento e é
anestesiada. "O paciente não sente dor, mas pode estar com medo
e assustado, por isso a anestesia é
dada para ajudá-lo", afirma.
O eletrochoque consiste na passagem de uma corrente elétrica de
um "pólo" a outro da cabeça, provocando uma convulsão cerebral
que resultaria em um realinhamento dos neurotransmissores.
Roland Dardennes, da Universidade René Descartes, de Paris,
afirma que a eletroconvulsoterapia é usada em cerca de 3% dos
pacientes nos hospitais franceses.
"Não há nenhuma polêmica
quanto a seu uso quando a vida
do paciente está em risco", diz.
Para Antonio Mourão Cavalcante, professor titular de psiquiatria da Universidade Federal
do Ceará, o emprego do eletrochoque revela "a onipotência da
psiquiatria, que não quer reconhecer limitações". "Passar por
um eletrochoque provocará tanto
estigma em uma pessoa que causará mais dano que a doença."
A posição de Cavalcante corresponde à de muitos profissionais
que se engajaram na luta pelo fim
dos manicômios. "Alegar que a
anestesia humaniza o procedimento é querer mascarar uma
prática dantesca."
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