São Paulo, quarta, 3 de dezembro de 1997.



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Crítica ao atendimento público foi feita pelo presidente FHC ao jornal londrino "The Times"
Ministro concorda que saúde é pesadelo

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília

O ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, concordou ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que classificou o atendimento público de saúde no Brasil de "pesadelo".
Albuquerque disse, no entanto, que o comentário poderia ter sido feito pessoalmente e não por meio da imprensa.
"É um pesadelo para o povo, para ele e para nós", disse o ministro, completando a declaração de FHC, feita em entrevista ao jornal britânico "The Times". "É um pesadelo em meio a uma tempestade", completou.
FHC também disse ao jornal britânico que o sistema de saúde no país continua contaminado pelo "excesso de burocracia e corrupção", a despeito do investimento público no setor.
Segundo o presidente declarou ao "The Times", os resultados de todo esse investimento continuam sendo "tímidos".
Albuquerque discordou da timidez dos resultados da política pública para o setor, como afirmou o presidente.
Disse que, "à primeira vista", a impressão pode ser de que os resultados são "tímidos" porque as mudanças são lentas, o que provoca um período de "inércia".
Demissão
"Não era mais fácil ele me chamar e fazer as críticas diretamente?", reagiu o ministro, ao ser questionado sobre a forma como FHC criticou seu trabalho.
"Não me sinto atingido em nada", afirmou em seguida.
Albuquerque disse que não pensava em deixar o cargo e, caso o presidente queira que ele o faça, não vê inconveniente.
"Não estou aqui por apoio de partido político", disse o ministro. "Ocupo um cargo técnico e estou aqui (há 11 meses) por causa da minha competência técnica."
A cada pergunta em que era questionado se estava se sentindo frustrado, incomodado ou coagido por causa das críticas de FHC, o ministro mostrava a lista de realizações do seu ministério, reconhecendo que ainda há muito a ser ser feito.
"Estamos procurando controlar a corrupção, desburocratizar e descentralizar. Ele nunca me deu nenhuma outra orientação que não fosse essa", disse Albuquerque. "Estou fazendo exatamente o que nós combinamos."
Albuquerque afirmou que, no ano que vem, a população vai poder ver os efeitos da descentralização, da municipalização, do controle feito pela vigilância sanitária e a distribuição de medicamentos.



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