São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

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Atendimento médico é inadequado

DA REPORTAGEM LOCAL

Elas são brancas, solteiras, com menos de 35 anos, têm até o ensino fundamental e, em geral, estão presas por roubo ou tráfico de drogas, sendo quase sempre levadas ao crime pelos namorados.
Minoria não só em representação, mas também em igualdade de direitos, as mulheres presas sofrem pela falta de atendimento médico e odontológico, pela separação dos filhos e pela solidão.
Segundo dados da Coordenadoria de Saúde da Secretaria da Administração Penitenciária, a contaminação por Aids entre as detentas beira os 20%. Já as doenças mentais acometem 10% das presidiárias paulistas.
Mas há também a tuberculose, as doenças crônicas e as infecto-contagiosas, para as quais o tratamento é precário e, praticamente, sem medidas preventivas.
A coordenadora de saúde da secretaria, Maria Eli Bruno, afirma que há muitas dificuldades para garantir atendimento médico nos presídios. "Queríamos resolver todos os problemas, mas há muitas barreiras", afirma.

Negligência
Em muitos casos, a falta de transporte ou de escolta impede que os presos sejam deslocados até o hospital. Segundo Maria Eli, 90% dos agendamentos com especialistas não são cumpridos.
A detenta C.L., 25, está presa há oito meses no Tatuapé e foi vítima da falta de atendimento adequado. Em agosto deste ano, C.L., que estava grávida de seis meses de gêmeos, perdeu os bebês por não ter recebido tratamento para uma infecção urinária.
"Minha gravidez era de risco, tinha sangramentos e dor. O atendimento da enfermaria não funcionava e nunca conseguia ir ao hospital fazer exames", diz.
C.L. conta que, quando conseguiu fazer os exames, levou dois meses para que o médico do presídio abrisse os papéis e constatasse a doença. Acabou sendo tarde demais. As crianças nasceram prematuras e não resistiram.
Maria Eli diz que o caso é controverso. "Ela afirma que houve negligência, mas o médico do presídio tem documentos que comprovam que ela foi atendida."
Após quatro meses e sem as crianças, C.L. ainda não conseguiu curar-se da infecção. Segundo Maria Eli, uma das maiores dificuldades para promover atendimento de saúde nos presídios é a falta de profissionais.
"Fazemos concursos, aprovamos pessoas, mas ninguém quer assumir. Um dos motivos para isso são os baixos salários", afirma a coordenadora. (MD)



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