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A SERVIÇO DA LEI
Família não tem direito a seguro de vida porque sargento assassinado em base não estava em serviço, diz Estado
PM não indeniza por policial morto pelo PCC
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Morto com três tiros de metralhadora em um atentado contra
uma base da Polícia Militar, em
novembro de 2003, em São Paulo,
o sargento Fábio Soares, 50, virou
um símbolo para os colegas. Sua
morte motivou um ato público,
seu enterro quase parou sua cidade natal, no interior paulista, e ele
até virou nome de uma turma de
formandos da corporação.
A família do sargento, porém,
teve de apelar à Justiça para garantir que a instituição conceda a
ele o mesmo reconhecimento. O
PM não foi promovido pós-morte, o que garantiria reajuste na
pensão da família, nem a mulher e
a filha receberam o seguro de vida
previsto em contrato do governo
com a Cosesp (Companhia de Seguros do Estado de São Paulo).
Apesar de estar em uma unidade da PM, o sargento e sua família
não receberam os benefícios por
causa de um entrave burocrático:
Santos não estava na escala de trabalho no momento em que dois
criminosos, supostamente do
PCC (Primeiro Comando da Capital), chegaram de repente e passaram a dar rajadas de metralhadora contra a base da PM no Parque Anhangüera (zona norte).
Soares estava fardado e tinha
chegado mais cedo para o trabalho, segundo a Associação dos Policiais Militares Deficientes Físicos do Estado de São Paulo. Sua
escala começava às 23h, de acordo
com a entidade. O sargento foi
atingido por volta das 18h30.
De novo, Soares virou símbolo,
agora de uma campanha para
mudar os critérios de concessão
de benefícios nos casos de morte
ou invalidez de policiais militares.
O caso de Soares foi denunciado
anteontem pela entidade à Comissão de Segurança Pública da
Assembléia Legislativa. "Ele estava no local de trabalho, uniformizado. Não estava no bico", diz o
presidente da associação dos policiais deficientes, sargento Jefferson Eduardo Patriota dos Santos.
Só a assessoria jurídica da associação ingressou com 119 ações na
Justiça, nos últimos três anos,
contestando a posição do comando da Polícia Militar em rejeitar os
pedidos de benefícios.
Decreto estadual de 1982 estabelece que, para ser considerado
"acidente em serviço" -ocorrências de acidentes de carro ou de
confronto-, o PM tem de estar
no exercício de suas funções, em
expediente normal ou no deslocamento entre sua residência e a
unidade onde trabalha.
Para o presidente da associação,
o texto da legislação deveria ser alterado para "acidentes em serviço
ou em razão do serviço", o que incluiria o caso do sargento Soares.
"Cobram que o policial esteja 24
horas em função da sociedade.
Mas não há a contrapartida."
Uma sindicância concluiu que
Soares estava em hora de folga e
que, por isso, não receberia a promoção pós-morte nem seria pago
o seguro de vida à família. Após
essa decisão, familiares entraram
com ação na Justiça. "Essa situação é absurda. Ele chegou mais
cedo porque era bom policial. Em
vez de reconhecimento, foi punido pelos bandidos e pelo Estado",
afirmou o deputado Vanderlei Siraque (PT), membro da Comissão de Segurança da Assembléia.
O presidente da Comissão de
Segurança Pública da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de
São Paulo, Evandro Fabiani Capano, afirma que o comando da PM
rejeita inclusive os pedidos de benefícios de policiais que comprovadamente estavam em serviço.
"Alega-se negligência ou imprudência na maioria dos casos. Nos
casos de morte, só 10% dos pedidos de benefício são atendidos."
Depois da morte do PM, uma
sindicância é aberta para apurar
se o policial tem direito aos benefícios. Esse relatório é enviado ao
comando da PM, segundo Capano. "É nessa fase que ocorre a
maior parte das rejeições, apesar
de, muitas vezes, o batalhão atestar que o PM morreu em serviço."
Fora da galeria de heróis
Soares morreu um mês antes do
prazo estabelecido para deixar o
trabalho de rua. Ele planejava entrar em licença-prêmio e logo depois se aposentar. Iria morar com
a família em Ubirajara (415 km de
SP). A mulher e a filha já tinham
ido, justamente para fugir da violência da capital paulista.
Mesmo baleado em uma unidade da PM, Soares não figura na galeria de heróis da instituição. Não
teve o mesmo reconhecimento do
cabo Pedro Cassiano Cunha,
morto poucas horas depois do
sargento, em novembro de 2003,
em circunstância semelhante:
atentado contra base da PM. Nesse caso, a corporação admitiu que
Cunha estava em serviço e seu nome está na galeria de heróis.
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