São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Aos 115, Paulista se mantém soberana mesmo após o auge

Problemas como ambulantes e pouco verde não tiram da avenida título de símbolo de SP

Trabalhando na Paulista há vários anos, "nativos" narram as transformações que presenciaram no maior cartão-postal da cidade

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

São 21h30 de quarta-feira e o casal, ele de terno e gravata, ela de tailleur, aprecia um cafezinho, antes da sessão de cinema. Duzentos metros para o alto, quase no ar, um senhor de capacete e cinto de segurança, invisível entre barras de ferro, acerta a redistribuição de imagens de televisão para toda a cidade. Terra adentro, num mergulho de 20 metros abaixo do asfalto, uma turma se prepara para mais uma jornada noturna.
Na teia de universos intrincados da Paulista, o horizonte se estende em muitas direções, e o cenário varia conforme o ângulo de visão de seus "nativos", gente que, há décadas, arranca dela o seu ganha-pão, como os personagens desta reportagem.

Previsão
Conta a história que em 8 de dezembro de 1891, dia de sua inauguração, o engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima ofereceu um banquete em sua chácara, nas proximidades, e fez uma previsão grandiloqüente: "Esta avenida será a via que conduzirá São Paulo ao seu grande destino".
Na época, não havia uma única construção nos 2.800 metros de extensão, somente um conjunto de terrenos uniformes, demarcados por cercas e estacas.
No piso de pedregulhos brancos, três faixas, uma destinada ao bondes de tração animal, outra destinada às carruagens e cavaleiros, e a terceira, para os pedestres.

Caminho de bois
Ponto estratégico, espécie de divisor geográfico e simbólico da metrópole, a nova avenida enterrava o antigo caminho de bois do Alto do Caaguaçu -que significa mato alto em tupi-guarani- e apontava um horizonte promissor.
Exatos 115 anos depois, impossível saber qual era exatamente a concepção de "grande destino" cultivada por Joaquim Eugênio, mas sua avenida cresceu, enriqueceu, virou símbolo da cidade e, do auge, começou a flertar com a decadência.

Título ameaçado?
Calçamento estourado aqui e ali, moradores de rua, placas de localização roubadas, calçadas obstruídas por ambulantes, pouco verde e muito ônibus, a lista de problemas salta aos olhos.
Nada disso, entretanto, chega a ameaçar o título de avenida símbolo da cidade. Elementar: em uma metrópole com enormes problemas, faz todo sentido um símbolo cheio de imperfeições.


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