|
Texto Anterior | Índice
Aos 115, Paulista se mantém soberana mesmo após o auge
Problemas como ambulantes e pouco verde não tiram da avenida título de símbolo de SP
Trabalhando na Paulista há vários anos, "nativos" narram as transformações que presenciaram no maior cartão-postal da cidade
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
São 21h30 de quarta-feira e o
casal, ele de terno e gravata, ela
de tailleur, aprecia um cafezinho, antes da sessão de cinema.
Duzentos metros para o alto,
quase no ar, um senhor de capacete e cinto de segurança, invisível entre barras de ferro,
acerta a redistribuição de imagens de televisão para toda a cidade. Terra adentro, num mergulho de 20 metros abaixo do
asfalto, uma turma se prepara
para mais uma jornada
noturna.
Na teia de universos intrincados da Paulista, o horizonte
se estende em muitas direções,
e o cenário varia conforme o
ângulo de visão de seus "nativos", gente que, há décadas, arranca dela o seu ganha-pão, como os personagens desta
reportagem.
Previsão
Conta a história que em 8 de
dezembro de 1891, dia de sua
inauguração, o engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima ofereceu um banquete em
sua chácara, nas proximidades,
e fez uma previsão grandiloqüente: "Esta avenida será a via
que conduzirá São Paulo ao seu
grande destino".
Na época, não havia uma única construção nos 2.800 metros de extensão, somente um
conjunto de terrenos uniformes, demarcados por cercas e
estacas.
No piso de pedregulhos brancos, três faixas, uma destinada
ao bondes de tração animal, outra destinada às carruagens e
cavaleiros, e a terceira, para os
pedestres.
Caminho de bois
Ponto estratégico, espécie de
divisor geográfico e simbólico
da metrópole, a nova avenida
enterrava o antigo caminho de
bois do Alto do Caaguaçu -que
significa mato alto em tupi-guarani- e apontava um horizonte promissor.
Exatos 115 anos depois, impossível saber qual era exatamente a concepção de "grande
destino" cultivada por Joaquim
Eugênio, mas sua avenida cresceu, enriqueceu, virou símbolo
da cidade e, do auge, começou a
flertar com a decadência.
Título ameaçado?
Calçamento estourado aqui e
ali, moradores de rua, placas de
localização roubadas, calçadas
obstruídas por ambulantes,
pouco verde e muito ônibus,
a lista de problemas salta
aos olhos.
Nada disso, entretanto, chega a ameaçar o título de avenida
símbolo da cidade. Elementar:
em uma metrópole com enormes problemas, faz todo sentido um símbolo cheio de
imperfeições.
Texto Anterior: Protesto no ar: Prefeitura e delegacia são depredadas Índice
|