São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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Em estreia no "rapa" da 25 de Março, PM enfrenta camelôs

Ambulantes lançam ovos, pedras e água de esgoto contra os policiais, que revidam com balas de borracha e bombas de gás

Tumulto provoca correria, comerciantes fecham lojas e consumidores em pânico buscam abrigo em bancos; 17 pessoas foram detidas

Almeida Rocha/Folha Imagem
Ambulantes que faziam protesto na rua 25 de Março correm da Polícia Militar em confronto; houve pânico entre consumidores, e comerciantes fecharam lojas

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Camelôs e policiais militares se enfrentaram durante todo o dia de ontem na rua 25 de Março, um dos principais pontos de comércio popular de São Paulo, no primeiro dia da execução de convênio entre prefeitura e governo do Estado que passou a fiscalização da área à Polícia Militar -antes, a Guarda Civil Municipal tinha a atribuição.
Lojas foram depredadas e pelo menos 17 pessoas ficaram detidas, de acordo com a PM. Os vendedores ambulantes jogaram pedras, ovos, bolas de gude e sacos recheados com água de esgoto na polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de gás pimenta.
Houve correria e muitos frequentadores da região buscaram proteção em lojas e agências bancárias. Pessoas que faziam compras caíram no chão. Outras, assustadas, chegaram a desmaiar dentro das lojas. Nesta época do ano, cerca de 1,2 milhão de pessoas de várias partes do país passam por dia na área, segundo a Univinco (União dos Lojistas da rua 25 de Março).
O tumulto começou por volta das 10h. Os vendedores ambulantes que não tinham licença da prefeitura para atuar na região foram impedidos de montar suas barracas pelos aproximadamente 200 PMs que integravam a operação. Revoltados, cerca de 300 camelôs começaram uma manifestação.
Eles apitavam e gritavam para que os lojistas fechassem as portas -aqueles que não obedeciam eram atingidos com pedras e ovos, que também eram lançados em direção aos PMs.
A Força Tática -espécie de grupo de elite da Polícia Militar- foi chamada. Cerca de 60 homens começaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes. Em resposta, os camelôs atearam fogo em papelões espalhados pela rua e jogaram bombas caseiras.
A rua estava lotada de pessoas que faziam compras de Natal -grande parte dos consumidores ficou no meio do confronto. "Eu e meu filho fomos atingidos por gás pimenta. Se a polícia é contrária aos ambulantes, há outra forma de resolver o problema, não atingindo crianças", reclamou uma das compradoras, a corretora de seguros Mônica dos Santos, 33.
A lojista Lourdes Rocha, 55, veio de Fortaleza fazer compras e, no meio da correria, teve de se refugiar chorando dentro de um banco. "Estou muito assustada, não quero mais sair."
O conflito durou toda a tarde. Logo depois de a polícia dispersar os manifestantes com a utilização de bombas, grupos de camelôs voltavam a se reunir e a intimidar os lojistas.
Com medo de represália, muitos dos comerciantes se recusaram a falar com a Folha. "Não vendemos nada. Fechamos as portas porque temos medo de eles invadirem", dizia um dos donos de loja, que não quis se identificar.

Irregular
Os camelôs reclamavam que a fiscalização da PM é irregular e que apenas a Guarda Civil Municipal poderia impedi-los de montar as barracas, já que o assunto é de competência da prefeitura. "É com o dinheiro do município que se paga a PM agora?", questionava a ambulante Maria Aparecida Alcântara, 36, que vende roupas para cachorro na rua, sem licença. "Só queremos trabalhar", dizia.
O capitão da PM Renato de Natale Júnior discorda. "Nossa função é fazer com que a lei seja cumprida. E eles não têm licença para trabalhar aqui", disse.


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