São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Matemática já não é mais especialidade só de garotos

Dados do Saeb mostram que distância diminuiu em todas as séries analisadas

Em português, disciplina em que já apresentavam desempenho superior ao dos meninos, meninas estão ampliando sua vantagem

Rafael Andrade/ Folha Imagem
Ana Thaís Santana, que já ganhou duas vezes medalha de ouro em olimpíada de matemática

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A vantagem masculina em matemática, uma das poucas áreas em que meninos ainda apresentavam desempenho melhor que meninas na educação, está ameaçada.
Dados do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação) mostram que, de 1995 a 2007, a distância que separava meninas de meninos nessa disciplina diminuiu em todas as séries analisadas.
Ao mesmo tempo em que se aproximam dos meninos em matemática, meninas estão cada vez mais ampliando sua vantagem em língua portuguesa, disciplina em que já apresentavam desempenho superior.
Ao menos na educação, o avanço maior das mulheres acentua um quadro de desigualdade de gênero às avessas, já que, no passado, os esforços visavam incluir as mulheres, tradicionalmente em desvantagem em relação aos homens no acesso ao ensino.
Nas turmas de 4ª série do ensino fundamental, por exemplo, a diferença entre meninos e meninas hoje é de apenas 1,6 ponto a favor dos garotos, numa escala que vai de zero a 500. Em 1995, era de 3,6 pontos. Nas séries mais avançadas, a diferença caiu de 15 para 9 pontos na 8ª série e de 27 para 17 no 3º ano do ensino médio.
O melhor desempenho de meninos em matemática e de meninas em leitura é verificado em quase todos os países que participam de avaliações internacionais como o Pisa, exame da OCDE que avalia alunos em testes de matemática, ciências e leitura.
A explicação mais citada por especialistas para explicar essas diferenças é cultural, ou seja, influência da forma com que meninos e meninas são criados desde pequenos.
Mas há quem considere que a genética também tenha um papel nessa explicação, pois homens teriam mais predisposição biológica para aprender matemática, e mulheres, maior capacidade em leitura.
O ex-reitor da Universidade Harvard Lawrence Summers, por exemplo, chegou a dizer em 2005 -e desde então se desculpou diversas vezes- que só uma "aptidão intrínseca" poderia explicar o fato de haver menos mulheres bem-sucedidas em ciências e matemática.
Um estudo divulgado neste ano pelo italiano Luigi Guiso, do Instituto Universitário Europeu, refuta a tese de que a biologia seja a principal explicação para as diferenças.
Com base nos resultados do Pisa, comparou indicadores de igualdade de gênero de cada país com o desempenho por sexo. Concluiu que, em países com níveis mais altos de igualdade, como Suécia, Noruega e Islândia, praticamente não há diferença em matemática.
Ao mesmo tempo em que a distância em matemática encurta, Guiso verificou também que a vantagem das mulheres em leitura, assim como tem acontecido no Brasil, só aumenta nesses países.
No caso brasileiro, a análise dos dados do Saeb por Estado mostram também que a distância varia bastante de acordo com a unidade da federação.
No 3º ano do ensino médio, a diferença em favor dos meninos em matemática, de 17 pontos em todo o Brasil, cai para 9 pontos em São Paulo e sobe para 25 em Alagoas.
Na 8ª série, enquanto as médias do Brasil apontam uma vantagem de 9 pontos para os meninos, em São Paulo essa diferença cai para 6, e no Rio Grande do Norte chega a 14.


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