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Hosmany Ramos não volta para a prisão e diz querer fugir do país
Condenado por assassinato, ex-médico deveria ter se reapresentado ontem
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde ontem às 17h o ex-médico Hosmany Ramos, 61, um
dos mais famosos presidiários
do país, é considerado foragido
da Justiça. Ele deveria ter-se
reapresentado na Penitenciária de Valparaíso, a 577 km de
São Paulo, onde cumpria o regime semiaberto, depois da chamada "saidinha" do final de ano
para passar as festas com familiares. Não o fez, conforme antecipou aos jornais na sexta-feira (dia 1º). "É momento de
alguém, de um intelectual como eu, protestar contra o sistema prisional paulista, que só
serve para torturar, para formar monstros, não para ressocializar ninguém", disse ele.
Médico com especialização
em cirurgia plástica, Ramos
chegou a trabalhar na clínica de
Ivo Pitanguy, de quem foi aluno
brilhante. Namorou celebridades e frequentou colunas sociais até que, nos anos 80, envolveu-se com roubo de carros
e joias e respondeu a acusações
de assassinatos -os crimes
renderam-lhe condenações de
57 anos de prisão.
Antes desta, a última vez que
Ramos evaporou da cadeia
aconteceu em 1996, quando obteve permissão para visitar os
pais em Minas Gerais. Voltou
-recapturado- 45 dias depois,
não sem antes ver-se envolvido
em um sequestro: mais 30 anos
de xadrez.
Ontem, a reportagem da Folha localizou Ramos pelo celular. Ele estava em outro Estado
Disse que pretendia deslocar-se para o oeste. "Este país tem
fronteiras imensas", afirmou.
O ex-médico garantiu estar
sozinho e sem carro. "Viajo de
carona. Eu não sou nem louco
de ir para uma rodoviária", disse. Uma lembrança ainda vívida para ele são os cartazes de
"Procura-se", espalhados pelo
governo em aeroportos e rodoviárias durante os anos 70, no
cerco a grupos guerrilheiros de
oposição ao regime.
Depois de sair do Brasil, diz,
pretende refugiar-se "em um
país muito pobre", onde poderá
"voltar a praticar a medicina".
Mas também fala em ir para a
Noruega. Se recapturado, sabe,
volta para o regime fechado.
"Para mim, não faz diferença.
A Penitenciária de Valparaíso,
não permite que eu trabalhe,
que eu me ressociabilize", diz
ele, desde agosto beneficiado
pela progressão da pena para o
regime semiaberto.
Ramos afirma ter pedido para ser transferido para São Paulo, onde teria um emprego na
Editora Geração, que publica
seus livros. Negaram.
Autor de oito livros publicados, Ramos finaliza mais dois
-ambos escritos à mão (ele é
analfabeto em informática).
A última vez que o ex-médico
apareceu no noticiário foi durante rebelião na Penitenciária
de Araraquara (273 km de São
Paulo), em 2006. Na ocasião, a
polícia lacrou as portas da cadeia com solda (para evitar a fuga dos detentos). Foi Ramos,
um dos presos, quem socorreu
os feridos (até dentes ele chegou a arrancar -apenas com
um prego e um sapato usado
como martelo).
"Quando acabou a rebelião, a
segurança da cadeia me quebrou inteiro com uma surra",
acusa. O diretor da penitenciária, então, era Roberto Medina,
atual coordenador das prisões
da região oeste de São Paulo,
onde fica a de Valparaíso. Procurado, Medina não foi localizado para entrevista.
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