São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Hosmany Ramos não volta para a prisão e diz querer fugir do país

Condenado por assassinato, ex-médico deveria ter se reapresentado ontem

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde ontem às 17h o ex-médico Hosmany Ramos, 61, um dos mais famosos presidiários do país, é considerado foragido da Justiça. Ele deveria ter-se reapresentado na Penitenciária de Valparaíso, a 577 km de São Paulo, onde cumpria o regime semiaberto, depois da chamada "saidinha" do final de ano para passar as festas com familiares. Não o fez, conforme antecipou aos jornais na sexta-feira (dia 1º). "É momento de alguém, de um intelectual como eu, protestar contra o sistema prisional paulista, que só serve para torturar, para formar monstros, não para ressocializar ninguém", disse ele.
Médico com especialização em cirurgia plástica, Ramos chegou a trabalhar na clínica de Ivo Pitanguy, de quem foi aluno brilhante. Namorou celebridades e frequentou colunas sociais até que, nos anos 80, envolveu-se com roubo de carros e joias e respondeu a acusações de assassinatos -os crimes renderam-lhe condenações de 57 anos de prisão.
Antes desta, a última vez que Ramos evaporou da cadeia aconteceu em 1996, quando obteve permissão para visitar os pais em Minas Gerais. Voltou -recapturado- 45 dias depois, não sem antes ver-se envolvido em um sequestro: mais 30 anos de xadrez.
Ontem, a reportagem da Folha localizou Ramos pelo celular. Ele estava em outro Estado Disse que pretendia deslocar-se para o oeste. "Este país tem fronteiras imensas", afirmou.
O ex-médico garantiu estar sozinho e sem carro. "Viajo de carona. Eu não sou nem louco de ir para uma rodoviária", disse. Uma lembrança ainda vívida para ele são os cartazes de "Procura-se", espalhados pelo governo em aeroportos e rodoviárias durante os anos 70, no cerco a grupos guerrilheiros de oposição ao regime.
Depois de sair do Brasil, diz, pretende refugiar-se "em um país muito pobre", onde poderá "voltar a praticar a medicina". Mas também fala em ir para a Noruega. Se recapturado, sabe, volta para o regime fechado.
"Para mim, não faz diferença. A Penitenciária de Valparaíso, não permite que eu trabalhe, que eu me ressociabilize", diz ele, desde agosto beneficiado pela progressão da pena para o regime semiaberto.
Ramos afirma ter pedido para ser transferido para São Paulo, onde teria um emprego na Editora Geração, que publica seus livros. Negaram.
Autor de oito livros publicados, Ramos finaliza mais dois -ambos escritos à mão (ele é analfabeto em informática).
A última vez que o ex-médico apareceu no noticiário foi durante rebelião na Penitenciária de Araraquara (273 km de São Paulo), em 2006. Na ocasião, a polícia lacrou as portas da cadeia com solda (para evitar a fuga dos detentos). Foi Ramos, um dos presos, quem socorreu os feridos (até dentes ele chegou a arrancar -apenas com um prego e um sapato usado como martelo).
"Quando acabou a rebelião, a segurança da cadeia me quebrou inteiro com uma surra", acusa. O diretor da penitenciária, então, era Roberto Medina, atual coordenador das prisões da região oeste de São Paulo, onde fica a de Valparaíso. Procurado, Medina não foi localizado para entrevista.


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