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Em trabalhos, Luma precisa assinar João
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Ter um travesti entre os alunos foi uma novidade para o sociólogo da Universidade Federal do Ceará André Haguette,
que leciona há 42 anos.
"Fora o aspecto físico, entre
ela e os outros alunos não há diferença. Como é bom que uma
pessoa nessa condição chegue
aonde ela está chegando."
O estranhamento de professores, colegas e funcionários da
universidade foi sentido por
Luma Andrade logo nas primeiras aulas do doutorado, em
agosto. Mas de uma forma menos agressiva do que em outros
tempos -só olhares de espanto. Para ela, o status de doutoranda lhe atribui mais respeito.
"Essa surpresa que a gente
está tendo é bacana, uma surpresa de acolhida. Mas ainda é
uma surpresa, porque a Luma é
inusitada. Espero que logo deixe de ser surpresa e passe a ser
comum ver outros travestis em
sala de aula", disse o colega
Henrique Beltrão. "É nesse encontro com o outro que a gente
vai superando preconceitos."
Luma usou um seminário em
que tinha de apresentar o filósofo Karl Popper (1902-1994)
para diminuir o estranhamento. "Demonstrei que, pelo método da indução de Popper,
chega-se à conclusão de que todo travesti faz programa. Mas
eu sou travesti e não faço programa e, por isso, é preciso desconstruir todas essas determinações e ver que há, sim, outras
possibilidades."
Na vivência acadêmica, porém, há ainda um elemento que
gera constrangimento: o uso de
seu nome de batismo em publicações de artigos e apresentações. No seminário de abertura
do doutorado, ao ser anunciada
como João Filho, colegas tentaram corrigir o professor, aos
sussurros: "É Luma".
"O nome me constrange. O
sexo, não", disse ela, que agora
vai recorrer à Justiça para tentar mudar o nome.
(KB)
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