São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Índice

Em trabalhos, Luma precisa assinar João

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Ter um travesti entre os alunos foi uma novidade para o sociólogo da Universidade Federal do Ceará André Haguette, que leciona há 42 anos.
"Fora o aspecto físico, entre ela e os outros alunos não há diferença. Como é bom que uma pessoa nessa condição chegue aonde ela está chegando."
O estranhamento de professores, colegas e funcionários da universidade foi sentido por Luma Andrade logo nas primeiras aulas do doutorado, em agosto. Mas de uma forma menos agressiva do que em outros tempos -só olhares de espanto. Para ela, o status de doutoranda lhe atribui mais respeito.
"Essa surpresa que a gente está tendo é bacana, uma surpresa de acolhida. Mas ainda é uma surpresa, porque a Luma é inusitada. Espero que logo deixe de ser surpresa e passe a ser comum ver outros travestis em sala de aula", disse o colega Henrique Beltrão. "É nesse encontro com o outro que a gente vai superando preconceitos."
Luma usou um seminário em que tinha de apresentar o filósofo Karl Popper (1902-1994) para diminuir o estranhamento. "Demonstrei que, pelo método da indução de Popper, chega-se à conclusão de que todo travesti faz programa. Mas eu sou travesti e não faço programa e, por isso, é preciso desconstruir todas essas determinações e ver que há, sim, outras possibilidades."
Na vivência acadêmica, porém, há ainda um elemento que gera constrangimento: o uso de seu nome de batismo em publicações de artigos e apresentações. No seminário de abertura do doutorado, ao ser anunciada como João Filho, colegas tentaram corrigir o professor, aos sussurros: "É Luma".
"O nome me constrange. O sexo, não", disse ela, que agora vai recorrer à Justiça para tentar mudar o nome. (KB)



Texto Anterior: Travesti vence preconceito e faz doutorado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.