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Endinheirados pagam R$ 4,5 mil por voo para fugir do trânsito
Procura por voos do litoral norte para São Paulo aumenta e congestiona aeroporto de Ubatuba
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
Endinheirados dispostos a
pagar R$ 4.500 por um voo até
São Paulo, e evitar mais de 100
km de paralisação no trânsito
das rodovias Rio-Santos e dos
Tamoios, no litoral norte, congestionaram ontem o aeroporto de Ubatuba (250 km de SP).
O movimento em apenas
uma das empresas de táxi aéreo
que operam no local, e normalmente oferece voos turísticos
de helicóptero, teve um aumento de mais de 400% . Até o
meio-dia, foram dez traslados.
O industriário Murilo Fakury, 49, que saiu de Goiânia no
dia 29 com a mulher e a filha, e
desceu de Cumbica para Paraty
de ônibus, pretendia fazer o
mesmo na volta, mas não teve
tempo. "Vamos de avião, para
não perder o voo para Goiânia,
às 16h15", afirmou Murilo, que
embarcou com a família em um
jatinho Senica às 13h.
A relações públicas Fernanda Ferraz, 33, que foi no dia 28
de São Paulo para Ubatuba com
um amigo, de carro, entrou no
voo seguinte. "A galera vai voltar durante a semana. Não posso ficar, tenho coisas para entregar no trabalho", disse.
Contribuiu para o aumento
na procura dos táxis aéreos o
fato de a rodovia Oswaldo Cruz,
outra possibilidade de retorno
para São Paulo, estar interditada (leia texto ao lado).
"O céu está carregado na serra, impróprio para voos de helicópteros. Tivemos de trazer
aviões extras de São Paulo. Desde ontem não param de ligar
perguntando sobre os fretes",
disse o comandante Maya Jr.,
coordenador de operação. Os
voos foram feitos em aviões
com configuração para quatro
passageiros (mais pilotos).
Também viajaram por ar o
industrial Márcio Favari, 38, a
mulher e a filha. Na sala de espera, disseram ter abortado o
pacote de fim de ano, que iria
até hoje, para fugir de deslizamentos, pois estavam hospedados na Pousada do Preto, vizinha à Sankay, a mais atingida
na tragédia da praia do Bananal, na Ilha Grande (RJ). Eles
contaram que acordaram às 7 h
do 1º dia de 2010 sem acreditar
no pesadelo. "A pousada foi
transformada em enfermaria
das vítimas, estava cheio de
gente ferida, os parentes chorando, bombeiros passando,
médicos se desdobrando para
atender tanta gente. Mas foi
bom ver que todos queriam
ajudar", disse Márcio.
Na estrada, motoristas que
saíram de Ubatuba por volta
das 4h de ontem, como a bancária Fabiana Medeiros, 37, demoravam cerca de cinco horas
para percorrer 25 km (metade
do caminho até Caraguatatuba). "Ai, me diz que vai melhorar lá pra cima [em direção a
São Paulo]", pedia Fabiana.
Mas a resposta de quem vinha
no contrafluxo não animava.
Bem acima, no km 18 da Tamoios, a polícia rodoviária segurava por dez minutos o trânsito da descida, a fim de dar
uma pista a mais para desafogar o fluxo intenso da subida.
Às 18h30, Fabiana Medeiros
liga com uma voz fraquinha,
para dizer que chegou em São
Paulo. Quatorze horas depois
do início da jornada de volta para casa.
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