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INTERIOR DE SP
Na região de Ribeirão, PM recruta homens com problemas disciplinares para a segurança de penitenciárias
"Rejeitados" fazem guarda de presídios
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL A ARARAQUARA
MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE INTERINO DA FOLHA RIBEIRÃO
O comando da Polícia Militar da
região recruta policiais "rejeitados" para fazer a segurança nas
Penitenciárias de Ribeirão Preto e
Araraquara. São pelo menos 40
homens que fazem a guarda externa dos dois prédios.
Segundo a PM, esses policiais tiveram algum tipo de ato de indisciplina no trabalho nas ruas e, em
alguns casos, nem sequer se adaptaram às funções administrativas.
Outros têm problemas físicos.
O comando da PM diz que isso
ocorre porque falta efetivo na corporação. Embora a polícia não divulgue os números, há cerca de
700 homens nas duas cidades.
Para o comandante da guarda
penitenciária de Ribeirão, Luís
Henrique Usai, essa conduta não
causa perda da qualidade do policiamento. "Talvez a pessoa não
tenha um perfil psicológico adequado para o policiamento comunitário, mas lá na penitenciária -sem contato com o público- ele é um bom policial."
Usai afirma também que essa
política da corporação serve mais
para preservar o policial que está
estressado com o serviço de rua e
evitar que ele seja demitido pelo
acúmulo de processos administrativos.
"Hoje ele agride, responde um
processo. Amanhã, ele atende mal
(uma ocorrência), responde outro procedimento. Dali a pouco
está num comportamento inadequado -tem uma classificação
de comportamento com relação
as punições que ele sofre-, aí ele
pode ser submetido a um processo de demissão ou expulsão."
Os policiais que trabalham nessas penitenciárias, por outro lado,
vêem essa transferência das ruas
para a guarda como um castigo.
"Ninguém gosta de ficar lá no
presídio sozinho", disse o soldado
Jorge (nome fictício).
Para Jorge, há seis anos na corporação, a maioria da corporação
gosta de trabalhar no policiamento motorizado para ter contato
com o público.
Na Penitenciária de Araraquara, segundo o comandante da
guarda -capitão Nelson Brito
dos Santos-, a política é a mesma adotada em Ribeirão.
"É um policial que deu um tapa
na cara de alguém na rua ou que
não pode dirigir. Essa é a política
do batalhão", disse o comandante
da guarda da penitenciária.
Santos também afirma que essa
prática não torna o policiamento
menos eficiente, mas disse, porém, que "não põe a mão no fogo"
por seus policiais.
"Eu só ponho a mão no fogo por
mim. Nem por minha mãe eu ponho", afirmou ele.
A guarda externa realizada pela
PM acontece em todas as penitenciárias do Estado. Quem realiza a
segurança interna são agentes penitenciários contratos pela Secretaria de Estado da Administração
Penitenciária.
Nova guarda
A Secretaria da Administração
Penitenciária estuda a formação
de uma guarda formada pela própria secretaria.
A criação dessa guarda é defendida por estudiosos de segurança
pública, como o coronel aposentado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, do Instituto Fernand Braudel. "Isso seria o mais
correto", afirmou
De acordo com Silva Filho, o
policial quando entra na polícia
nunca imagina que vai passar
seus dias em cima de um muro e
isso torna-se um castigo para ele
quando acontece. "O maior castigo dele é ficar sem falar com o público", afirmou ele.
O secretário de Estado da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, não foi encontrado
pela Folha entre quarta-feira e anteontem para comentar a situação
nas penitenciárias da região de
Ribeirão. No período, a Folha tentou em 12 oportunidades marcar
uma entrevista com Furukawa,
sem sucesso.
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