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ENSINO SUPERIOR
Estadual de Mato Grosso aprovou proposta de destinar 5% das vagas a negros e pardos; MEC também discute tema
Universidade quer cota para professor negro
Rogério Cassimiro/Folha Imagem
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O antropólogo Kabengele Munanga, na USP desde 1980, que classifica como "invisível" a presença de negros na universidade |
FERNANDA BASSETTE
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da polêmica por conta
da criação de cotas para estudantes, agora as universidades e o Ministério da Educação começam a
discutir a criação de reserva de vagas para professores negros.
A Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso) aprovou,
por unanimidade, a proposta de
destinar 5% das vagas a candidatos que se declararem negros ou
pardos no concurso para docente.
A medida pode ser estendida,
pois o MEC estuda implementá-la
nas universidades federais. O Departamento de Políticas da Educação Superior do ministério analisa a viabilidade do tema.
Apesar de as instituições terem
autonomia, a pasta pode induzir a
adoção do sistema. A intenção de
implementar cotas para professor
foi conseqüência da discussão para adoção da reserva para alunos,
bandeira do governo Lula.
"Legalmente, não vejo problemas. A questão é saber se as universidades vão querer implementar", afirma o coordenador-geral
de legislação e normas da educação superior do MEC, Marilson
Santana. Ele ressalta que ainda
não há uma definição na pasta.
O tema é polêmico. Apesar da
cota para docente ter sido aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário da Unemat, a
Procuradoria Geral do Estado de
Mato Grosso a considera inconstitucional por ferir o direito de
igualdade. Especialistas também
se dividem sobre o assunto. Os
contrários consideram que devem ser selecionados os melhores, independente da origem.
O professor Paulo Alberto dos
Santos Vieira, coordenador do
Negra (Núcleo de Estudos sobre
Educação, Gênero, Raça e Austeridade da Unemat), disse que a
proposta começou a ser estudada
assim que a universidade criou
cotas para alunos.
Segundo ele, uma pesquisa por
amostragem constatou que há
menos de 7% de alunos negros
nas universidades do Estado, sendo que o IBGE aponta que 54% da
população local se autodeclara
negra. "Se há tão poucos estudantes, imagine o número de professores", avalia.
Mesmo com o parecer contrário
da Procuradoria, Vieira vai insistir na idéia. "O conselho universitário é o órgão supremo da universidade e aprovou a criação.
Vamos provar que é válida."
Almir Arantes, vice-reitor da
Unemat e presidente da comissão
de concursos públicos, disse que
haverá uma reunião na próxima
segunda-feira com o conselho
universitário e a reitoria para discutir o parecer da Procuradoria.
A Unemat tem hoje 277 professores efetivos e cerca de 700 substitutos e temporários. O concurso
público vai abrir 427 novas vagas.
Atualmente, não há dados oficiais sobre a presença de docentes
negros no ensino superior do
país. Mas há uma certeza: está
muito abaixo da proporção de negros e pardos na sociedade, que
chega a quase metade.
Na USP, por exemplo, há 5.000
professores. "Não devemos ter
nem 50 negros [1%]", afirma João
Zanetic, vice-presidente da
Adusp (associação de docentes).
O antropólogo Kabengele Munanga, 63, é um deles. Professor
da principal universidade do país
desde 1980, ele classifica como
"invisível" a presença de negros
na instituição. "A diminuição das
desigualdades precisa de medidas
práticas e não só de discurso", diz.
No Paraná, uma lei estadual de
2003 reserva aos afrodescendentes 10% das vagas em concursos
públicos, inclusive para professor
das universidades estaduais. O
benefício, porém, ainda não chegou a ser colocado em prática pela
Universidade Estadual de Londrina porque o concurso é por área
específica. "Para cada cinco vagas
abertas, uma é para docente negro", diz Rodne Lima, pró-reitor
de Recursos Humanos da UEL.
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