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SAÚDE/OFTALMOLOGIA
Mau uso de colírios pode provocar doenças graves
População abusa mais no verão; catarata e glaucoma são possíveis conseqüências
Medicamentos comuns, como os que são usados para tratar conjuntivite ou em casos de olho vermelho, também oferecem riscos
CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do que faz pensar a música, colírios não são
tão inofensivos quanto óculos
escuros. São remédios e, como
todos eles, têm indicação certa.
Quem abusa desses produtos
pode sofrer com doenças graves, como glaucoma e até catarata precoce. Até os usados para conjuntivite ou vermelhidão
nos olhos têm riscos.
No verão, a automedicação se
intensifica. Uma pesquisa realizada pelo oftalmologista
Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, desde
novembro passado até o meio
de janeiro, mostrou que 40%
dos 369 pacientes ouvidos usavam colírios de forma indiscriminada. No resto do ano, essa
incidência fica em 30%.
"No verão, por causa do aumento da freqüência em piscinas e praias, irritações oculares
comuns e mais casos de conjuntivite, a automedicação é
maior", diz o autor do estudo.
O que ocorre, segundo ele, é
que, ao primeiro sinal de desconforto, qualquer colírio é utilizado. "As pessoas não encaram os colírios como remédios.
É como se fosse uma aguinha,
esquecem que têm um princípio ativo", afirma.
Para cada problema há um
colírio certo. Mesmo entre as
conjuntivites, que podem ter
diversas causas, existem diferentes indicações. Se ela é alérgica, é recomendado o colírio
antialérgico; se é bacteriana, o
colírio antibiótico; se é viral,
pode ser indicada apenas a lágrima artificial ou um colírio
antiinflamatório.
"Existe um abuso de colírios", afirma Jorge Mitre, presidente da Sociedade Brasileira
de Retina e Vítreo. "Se você
pingar um colírio que tem corticóide, vai se sentir bem, porque ele tira as reações. Mas o
uso incorreto apressa a formação de catarata e aumenta a
pressão do olho [o glaucoma]."
Outro colírio perigoso é o
anestésico. "Quando aparece
um cisco no olho ou qualquer
outra coisa, o anestésico alivia a
dor completamente. No entanto o abuso pode levar até à perfuração da córnea", afirma Denise Fornazari de Oliveira, oftalmologista e professora-assistente na Unicamp.
Já os colírios vasoconstritores, que servem para tirar a vermelhidão dos olhos, são vendidos sem receita e estão no armarinho do banheiro de grande
parte da população. Pingar um
produto desses sem indicação,
além de mascarar o verdadeiro
motivo pelo qual o olho ficou
vermelho -e que deve ser investigado-, pode adiantar o
aparecimento de catarata.
Esse medicamento faz com
que os vasos sangüíneos, que
estavam dilatados, se fechem.
Passado o efeito, os vasos voltam a se dilatar ainda mais. É o
chamado efeito rebote.
Drogas como a maconha e o
álcool também provocam vermelhidão e tornaram-se um fator a mais para o abuso.
O colírio lubrificante, ou lágrima artificial, é o mais seguro.
Com várias indicações, até para
quem usa muito computador,
tem muito menos efeitos colaterais em comparação com os
outros. Ainda assim, é preciso
orientação porque, como ele
contém conservantes, há risco,
ainda que pequeno, de provocar uma conjuntivite alérgica.
"As pessoas só devem usar
colírio quando têm algum problema detectado e com orientação médica. Colírio bom mesmo para o olho é a lágrima", afirma Denise Fornazari.
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