São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE/OFTALMOLOGIA

Mau uso de colírios pode provocar doenças graves

População abusa mais no verão; catarata e glaucoma são possíveis conseqüências

Medicamentos comuns, como os que são usados para tratar conjuntivite ou em casos de olho vermelho, também oferecem riscos

CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que faz pensar a música, colírios não são tão inofensivos quanto óculos escuros. São remédios e, como todos eles, têm indicação certa. Quem abusa desses produtos pode sofrer com doenças graves, como glaucoma e até catarata precoce. Até os usados para conjuntivite ou vermelhidão nos olhos têm riscos.
No verão, a automedicação se intensifica. Uma pesquisa realizada pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, desde novembro passado até o meio de janeiro, mostrou que 40% dos 369 pacientes ouvidos usavam colírios de forma indiscriminada. No resto do ano, essa incidência fica em 30%.
"No verão, por causa do aumento da freqüência em piscinas e praias, irritações oculares comuns e mais casos de conjuntivite, a automedicação é maior", diz o autor do estudo.
O que ocorre, segundo ele, é que, ao primeiro sinal de desconforto, qualquer colírio é utilizado. "As pessoas não encaram os colírios como remédios. É como se fosse uma aguinha, esquecem que têm um princípio ativo", afirma.
Para cada problema há um colírio certo. Mesmo entre as conjuntivites, que podem ter diversas causas, existem diferentes indicações. Se ela é alérgica, é recomendado o colírio antialérgico; se é bacteriana, o colírio antibiótico; se é viral, pode ser indicada apenas a lágrima artificial ou um colírio antiinflamatório.
"Existe um abuso de colírios", afirma Jorge Mitre, presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. "Se você pingar um colírio que tem corticóide, vai se sentir bem, porque ele tira as reações. Mas o uso incorreto apressa a formação de catarata e aumenta a pressão do olho [o glaucoma]."
Outro colírio perigoso é o anestésico. "Quando aparece um cisco no olho ou qualquer outra coisa, o anestésico alivia a dor completamente. No entanto o abuso pode levar até à perfuração da córnea", afirma Denise Fornazari de Oliveira, oftalmologista e professora-assistente na Unicamp.
Já os colírios vasoconstritores, que servem para tirar a vermelhidão dos olhos, são vendidos sem receita e estão no armarinho do banheiro de grande parte da população. Pingar um produto desses sem indicação, além de mascarar o verdadeiro motivo pelo qual o olho ficou vermelho -e que deve ser investigado-, pode adiantar o aparecimento de catarata.
Esse medicamento faz com que os vasos sangüíneos, que estavam dilatados, se fechem. Passado o efeito, os vasos voltam a se dilatar ainda mais. É o chamado efeito rebote.
Drogas como a maconha e o álcool também provocam vermelhidão e tornaram-se um fator a mais para o abuso.
O colírio lubrificante, ou lágrima artificial, é o mais seguro. Com várias indicações, até para quem usa muito computador, tem muito menos efeitos colaterais em comparação com os outros. Ainda assim, é preciso orientação porque, como ele contém conservantes, há risco, ainda que pequeno, de provocar uma conjuntivite alérgica.
"As pessoas só devem usar colírio quando têm algum problema detectado e com orientação médica. Colírio bom mesmo para o olho é a lágrima", afirma Denise Fornazari.


Texto Anterior: Médicos da tropa mais temida dizem prestar socorro também a criminosos
Próximo Texto: Perguntas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.