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Período pós-férias é boa fase para livrar corpo dos abusos cometidos
Fígado e sistema digestivo são os que mais sentem desajuste no organismo
MAYRA STACHUK
DA REVISTA DA FOLHA
Tudo bem. Você não economizou nas caipirinhas nem nas
lulas fritas à beira-mar. Também não poupou o estômago na
ceia de Natal ou se lembrou do
fígado na hora de estourar a
champanhe ou entornar hectolitros de cerveja no Réveillon.
Ao desfazer as malas e voltar à
rotina é que a ficha cai.
Muito mais do que uma ressaca moral, o corpo se ressente
dos prazerosos, mas destrutivos, momentos de Rê Bordosa,
a personagem pé-na-jaca de
Angeli que estourou na banheira, de tanto beber.
"Uma taça de vinho a mais ou
a sobremesa extra não matam
ninguém. Mas dias seguidos na
equação pouco-sono-muita-bebida-mais-porcarias à vontade não passam ilesos", diz o
gastroenterologista Arnaldo
Ganc, do Albert Einstein.
O rastro deixado por esses
excessos temporários é um desajuste no organismo, principalmente no fígado (o que mais
sofre) e no sistema digestivo.
Em termos médicos, os principais vilões são os destilados
(vodka, uísque, aguardentes) e
as gorduras saturadas (frituras,
alimentos industrializados, essencialmente). Quem ficou menos de oito horas na cama também está em débito.
Não há uma linha demarcando a divisa entre o aceitável e
proibitivo, já que o limite depende de cada organismo e de
fatores como peso, sexo e hábitos alimentares. Mas todo
mundo sabe quando cruzou essa fronteira, dizem os médicos.
Para quem já desfez as malas,
fevereiro é uma boa hora para
ajudar o organismo a voltar à
harmonia. Os mais festeiros,
que acham que o fim de ano só
termina na esbórnia do Carnaval, podem começar na Quarta-feira de Cinzas (quer data mais
apropriada para encarar "sacrifícios"?).
O ritual de desintoxicação
exige pelo menos uma semana
de controle alimentar para eliminar os efeitos deletérios que
os abusos provocam no sistema
gastrointestinal.
Há quem não tenha paciência para enfrentar as restrições
de um processo de desintoxicação e busque alternativas mais
rápidas. Uma delas é a colonterapia, que promete "lavar" as
paredes do intestino, eliminando os resíduos fecais que, por
culpa de prisão de ventre e alimentação gordurosa, aderem
ao tecido intestinal.
"Com as paredes congestionadas, a eliminação fica cada
vez mais difícil. Os restos fermentam e podem jogar toxinas
na corrente sangüínea", diz o
clínico-geral Tiago Almeida,
autor do livro "Colonterapia:
Reeducação Alimentar, Desintoxicação, Rejuvenescimento".
Criada na Alemanha há 30
anos e há cinco no Brasil, o procedimento é uma versão modernizada do velho enema (ou
clister), a lavagem realizada
com uma espécie de bombinha
que injeta água no intestino,
provocando a evacuação.
Na colonterapia, a bolsinha
foi substituída por uma máquina que faz o ciclo completo da
lavagem, injetando água ozonizada no intestino e trazendo
para volta os resíduos. A água,
de ação bactericida, circula
num tubo que é inserido pelo
reto até o cólon.
Cada sessão dura cerca de 30
minutos e custa, em média, entre R$ 150 e R$ 180. Tiago Almeida recomenda entre seis e
dez sessões, feitas em dias alternados.
A eficácia e a real necessidade do tratamento, no entanto,
são questionadas pela maioria
dos médicos brasileiros.
O gastroenterologista Arnaldo Ganc, do Hospital Albert
Einstein, afirma que o procedimento, além de desnecessário,
é contra-indicado. "O cólon é
uma região repleta de bactérias, e a pressão da água usada
no procedimento pode jogá-las
na corrente sangüínea", diz.
De acordo com ele, não passa
de mito a teoria de que restos
de fezes grudem nas paredes do
intestino. "Existem formas naturais de regularizar a flora intestinal, como uma alimentação rica em fibras e atividades
físicas regulares", afirma.
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