São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Índice

Período pós-férias é boa fase para livrar corpo dos abusos cometidos

Fígado e sistema digestivo são os que mais sentem desajuste no organismo

MAYRA STACHUK
DA REVISTA DA FOLHA

Tudo bem. Você não economizou nas caipirinhas nem nas lulas fritas à beira-mar. Também não poupou o estômago na ceia de Natal ou se lembrou do fígado na hora de estourar a champanhe ou entornar hectolitros de cerveja no Réveillon. Ao desfazer as malas e voltar à rotina é que a ficha cai.
Muito mais do que uma ressaca moral, o corpo se ressente dos prazerosos, mas destrutivos, momentos de Rê Bordosa, a personagem pé-na-jaca de Angeli que estourou na banheira, de tanto beber.
"Uma taça de vinho a mais ou a sobremesa extra não matam ninguém. Mas dias seguidos na equação pouco-sono-muita-bebida-mais-porcarias à vontade não passam ilesos", diz o gastroenterologista Arnaldo Ganc, do Albert Einstein.
O rastro deixado por esses excessos temporários é um desajuste no organismo, principalmente no fígado (o que mais sofre) e no sistema digestivo.
Em termos médicos, os principais vilões são os destilados (vodka, uísque, aguardentes) e as gorduras saturadas (frituras, alimentos industrializados, essencialmente). Quem ficou menos de oito horas na cama também está em débito.
Não há uma linha demarcando a divisa entre o aceitável e proibitivo, já que o limite depende de cada organismo e de fatores como peso, sexo e hábitos alimentares. Mas todo mundo sabe quando cruzou essa fronteira, dizem os médicos.
Para quem já desfez as malas, fevereiro é uma boa hora para ajudar o organismo a voltar à harmonia. Os mais festeiros, que acham que o fim de ano só termina na esbórnia do Carnaval, podem começar na Quarta-feira de Cinzas (quer data mais apropriada para encarar "sacrifícios"?).
O ritual de desintoxicação exige pelo menos uma semana de controle alimentar para eliminar os efeitos deletérios que os abusos provocam no sistema gastrointestinal.
Há quem não tenha paciência para enfrentar as restrições de um processo de desintoxicação e busque alternativas mais rápidas. Uma delas é a colonterapia, que promete "lavar" as paredes do intestino, eliminando os resíduos fecais que, por culpa de prisão de ventre e alimentação gordurosa, aderem ao tecido intestinal.
"Com as paredes congestionadas, a eliminação fica cada vez mais difícil. Os restos fermentam e podem jogar toxinas na corrente sangüínea", diz o clínico-geral Tiago Almeida, autor do livro "Colonterapia: Reeducação Alimentar, Desintoxicação, Rejuvenescimento".
Criada na Alemanha há 30 anos e há cinco no Brasil, o procedimento é uma versão modernizada do velho enema (ou clister), a lavagem realizada com uma espécie de bombinha que injeta água no intestino, provocando a evacuação.
Na colonterapia, a bolsinha foi substituída por uma máquina que faz o ciclo completo da lavagem, injetando água ozonizada no intestino e trazendo para volta os resíduos. A água, de ação bactericida, circula num tubo que é inserido pelo reto até o cólon.
Cada sessão dura cerca de 30 minutos e custa, em média, entre R$ 150 e R$ 180. Tiago Almeida recomenda entre seis e dez sessões, feitas em dias alternados.
A eficácia e a real necessidade do tratamento, no entanto, são questionadas pela maioria dos médicos brasileiros.
O gastroenterologista Arnaldo Ganc, do Hospital Albert Einstein, afirma que o procedimento, além de desnecessário, é contra-indicado. "O cólon é uma região repleta de bactérias, e a pressão da água usada no procedimento pode jogá-las na corrente sangüínea", diz.
De acordo com ele, não passa de mito a teoria de que restos de fezes grudem nas paredes do intestino. "Existem formas naturais de regularizar a flora intestinal, como uma alimentação rica em fibras e atividades físicas regulares", afirma.


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: Pro dia nascer feliz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.