São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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O PODER DO CRIME
Em janeiro e fevereiro, 40 foram exonerados por envolvimento com fugas e tráfico de armas e drogas
Secretaria bate recorde de demissões

DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo, nos últimos dois meses, demitiu mais funcionários de presídios acusados de cometer faltas graves do que a média anual dos seis anos anteriores.
Entre janeiro e fevereiro, 40 deles foram exonerados em razão de envolvimento, principalmente, com fugas, tráfico de drogas e a entrada de armas nas prisões.
De 95 a 2000, o governo do Estado demitiu 185 funcionários do sistema carcerário, o que dá uma média de 30 por ano.
"Estamos apertando o cerco contra a corrupção e revendo procedimentos de trabalho", diz o corregedor dos presídios do Estado, Clayton Alfredo Nunes, 40, no cargo há quatro meses.
Um desses novos procedimentos limita, desde a semana passada, a entrada a, no máximo, duas pessoas por preso nas visitas.
Antes, esse número chegava a nove. Em um final de semana, quase 10 mil pessoas passavam pela Casa de Detenção de São Paulo. "É praticamente impossível revistar todo mundo", afirma.
O agente penitenciário, de acordo com ele, é o que mais aparece envolvido em casos de corrupção por estar mais próximo do condenado. Dos 17 mil funcionários em penitenciárias, 13 mil têm contato direto com os detentos.
"Quanto mais perto do preso, quanto maior a prisão, maior o risco de envolvimento com a corrupção", diz o corregedor. É por esse motivo que a corregedoria quer usar o complexo do Carandiru como exemplo.
Em breve, a capacidade de investigação da corregedoria será aumentada. Hoje, há duas comissões processantes, cada uma com cerca de 400 processos "represados", em andamento.
Mais uma comissão, formada por procuradores do Estado, está para ser criada, segundo o corregedor. Esse grupo, de acordo com ele, irá atuar apenas nos casos considerados "especiais", como aqueles em que o funcionário foi pego levando armas ou drogas para os presos.
"Nossa idéia é ter uma decisão em no máximo 90 dias, dentro do período máximo em que o funcionário pode ficar suspenso."
Nunes afirma que tem se aproximado da polícia para resolver a questão do tráfico e da corrupção nas prisões. "Acionamos a polícia sempre que percebemos a existência de um crime."
Em um desses casos, na Casa de Detenção, um diretor e quatro agentes, já transferidos, estariam envolvidos com desvio de dinheiro de contas correntes de presos que trabalhavam na unidade. Há uma sindicância sobre o caso na Corregedoria e um inquérito na 4ª Delegacia Seccional.
Sobre o tráfico de drogas, a Secretaria da Administração Penitenciária disse que não há um trabalho específico de controle, a não ser revista de visitantes e inspeção periódica de celas.

Detenção
Informado na sexta-feira, por e-mail e telefone, a respeito das acusações que pesam sobre a Casa de Detenção, o diretor do presídio, Jesus Ross Martins, declarou que está comandando uma sindicância interna para apurá-las.
O diretor planeja solicitar aos jornalistas que tenham publicado reportagens sobre corrupção na Casa de Detenção que prestem depoimento à comissão que apura as acusações de corrupção.
(ALESSANDRO SILVA E SÉRGIO DURAN)



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