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SAÚDE
Confirmar diagnóstico com outro médico, hábito que começa a se desenvolver no país, contribui para o tratamento
Segunda opinião é um direito do paciente
KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Receber um diagnóstico grave,
complicado ou raro gera mais que
preocupação e angústia. Desperta
a dúvida. Nada mais justo, portanto, do que conhecer o ponto de
vista de outro especialista antes de
começar o tratamento, às vezes
doloroso e responsável por mudanças definitivas na qualidade
de vida do paciente.
Em outras palavras, nada mais
justo do que ouvir uma segunda
opinião médica. A prática é habitual em países desenvolvidos. Na
última década, está crescendo no
Brasil, principalmente entre as
pessoas mais informadas e que
podem recorrem aos centros
avançados de medicina.
Nos últimos três anos, pelo menos três grandes hospitais de São
Paulo criaram um serviço capaz
de oferecer, de maneira formal,
uma segunda opinião para casos
de câncer e para eletrocardiogramas (leia matéria nesta página).
Em breve também deve ser lançada uma empresa que se dedicará exclusivamente à prestação
desse serviço. A Second Medical
Opinion Consultoria e Assessoria
de Saúde está contratando especialistas de diversos setores para
analisarem históricos e exames de
pacientes que desejam confirmar
os diagnósticos que receberam.
Mas, em geral, o que a maioria
dos pacientes que procura uma
segunda opinião faz é consultar
outros médicos individualmente.
É um direito do paciente. E uma
forma moderna de usar a medicina. Apesar disso, esse comportamento ainda não se tornou rotina
no Brasil. "É uma questão cultural", afirma Antonio Carlos Lopes, professor de clínica médica
da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo).
O país põe o médico numa espécie de pedestal. Discordar dele é
visto quase como afronta. O paciente tem vergonha de dizer que
quer consultar outro especialista
antes de aceitar o diagnóstico. Já o
médico não tem humildade para
dizer que também tem dúvida.
"Muitos médicos, por medo de
perder o paciente, sequer cogitam
a hipótese de mandar o paciente
consultar um colega, como é desejável", afirma Lopes.
Vergonha
Já os pacientes, por vergonha
dos médicos, procuram outras
opiniões escondidos. "No mundo
inteiro, a segunda opinião mais
correta é aquela em que o médico
encaminha o paciente a um colega e participa com ele da nova
análise. Aqui, os pacientes acabam tirando uma opinião média
de tudo que ouviram sozinhos",
diz Renato Sabbatini, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
A pesquisa de uma segunda,
terceira, quarta ou décima opinião pode valer a vida. E até reduzir gastos, por incrível que pareça.
Nos Estados Unidos, por exemplo, planos de saúde têm pago
uma segunda opinião para seus
conveniados como maneira de
otimizar os gastos.
Segundo Sabbatini, antes de decidir por um procedimento caro,
as seguradoras querem ter certeza
de que ele é, de fato, necessário.
No Brasil, o Ministério da Saúde
reconhece a importância da prática. Prova disso é que o departamento de sistemas e redes assistenciais tem um projeto que pretende integrar a segunda opinião
ao sistema único de saúde.
A idéia, embrionária, deveria
ser encarada com seriedade e colocada em prática o quanto antes.
"Estudos americanos indicam
que a segunda opinião aprimora o
tratamento e diminui a possibilidade de erro médico", diz Paulo
Eduardo Elias, professor do departamento de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo).
A tranquilidade de estar optando pelo tratamento correto é um
elemento crucial para a recuperação do paciente. "É importante
estar confiante na hora da intervenção. Esse estado de espírito,
com certeza, pesa muito no processo de cura."
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