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Exército ameaça despejar 32 famílias no Rio
Justiça Federal autoriza retirada de 200 pessoas da aldeia do Imbuhy, em Niterói, para dar aos militares a reintegração de posse
Moradores afirmam que o Exército alega questão de segurança nacional, mas promove na região festas do peão boiadeiro e casamento
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O Exército está autorizado
pela Justiça Federal a despejar
as quase 200 pessoas, de 32 famílias, que há décadas vivem na
aldeia do Imbuhy (Niterói, a 15
km do Rio). O vilarejo fica hoje
dentro de uma área militar, na
entrada da baía de Guanabara,
em que funcionam cinco fortes.
Os habitantes do Imbuhy
descendem dos pioneiros que
chegaram na segunda metade
do século 19 àquele trecho, então deserto, do litoral.
Em sentença no último 13,
por unanimidade, os três desembargadores da 8ª Turma
mantiveram a decisão da primeira instância (1ª Vara Federal de Niterói), de 2004, e determinaram a reintegração de
posse das terras pelo Exército.
Os militares alegam que a área
é de segurança nacional.
A defesa dos moradores tem
15 dias para recorrer contra a
decisão da 8ª Turma. Se não o
fizer, o Exército poderá executar as ordens de despejo assim
que expirar o prazo.
Contratado pela Associação
dos Moradores da Aldeia do
Imbuhy, o advogado Arthur
Floriano Peixoto de Abreu já
decidiu recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele
pedirá que o processo seja anulado, sob a alegação de irregularidades processuais decorridas
ao longo do trâmite.
O presidente da entidade,
Aílton Navega, já promoveu
duas manifestações em que
moradores protestaram contra
a possibilidade do despejo ainda neste semestre.
Preocupado com a situação,
Navega, que vive com os pais
radicados no Imbuhy desde os
anos 30, afirma que, caso sejam
expulsos, os moradores, todos
pobres, não terão para onde ir.
Acabarão em favelas distantes
da região metropolitana.
Lazer dos oficiais
A aldeia fica na praia do Imbuhy, onde o Exército instalou
um hotel para o veraneio de
seus oficiais. De águas limpas, a
praia é privativa. Só a freqüentam militares e convidados.
Numa faixa litorânea de 8 km
de extensão, entre a entrada da
baía e a praia de Piratininga, ficam os fortes do Imbuhy, Rio
Branco, São Luiz e do Pico e a
fortaleza de Santa Cruz, em
uma área de 3,15 milhões de
metros quadrados controlada
pelo 8º Grupo de Artilharia de
Costa Motorizada do Exército.
A alegação militar de que trata-se de área de segurança nacional é contestada pelos moradores, que acusam o Exército
de usar a região apenas para lazer e descanso.
"Eles estão de olho, na verdade, é na questão do veraneio.
Em uma área de segurança nacional não se pratica festa do
peão boiadeiro. Não se aluga
para casamento. Não se promove o concurso de melhor caipirinha do Brasil. Tudo isso já
aconteceu por lá", afirmou o
advogado.
O Exército explora turisticamente o complexo de fortes de
Niterói desde os anos 90. Relíquias arquitetônicas, os fortes
são abertos ao público mediante pagamento de ingresso.
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