São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002

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INTOLERÂNCIA

Vítima sofreu golpes de pedaços de pau e teria sido arrastada pelas ruas de Maribondo amarrada a uma moto

Militante gay é apedrejado e morto em AL

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Atacado a pedradas nas ruas de Maribondo, município alagoano a 80 km de Maceió, morreu anteontem o desempregado José Márcio Santos Almeida, 33, militante do Grupo Gay de Alagoas.
Vítima de intolerância de jovens da cidade, o homossexual foi apedrejado na quarta-feira da semana passada. Como Maribondo não tem hospital, Almeida ficou na sua casa, sem assistência médica, até o dia seguinte, quando foi transferido para a capital.
Além de ser alvejado por pedras, ato de violência que virou um espetáculo público no centro da cidade, Almeida sofreu golpes de pedaços de pau. Os agressores também cuspiram nele.
"Comenta-se também que teria sido amarrado a uma moto e arrastado pela cidade", disse ontem à Folha o delegado Ailton Cavalcante, que investiga a autoria do crime em Maribondo, município de 15.145 habitantes. "O rapaz era homossexual, todo mundo sabia, mas era gente boa, não mexia com ninguém por aqui."
Três possíveis autores do crime, dois menores e um adulto, tiveram prisão preventiva decretada, mas negaram participação.
A suspeita é de que o grupo responsável pelo assassinato seja composto por pelo menos dez pessoas.
A polícia chegou aos suspeitos detidos por meio de informações da família de Almeida. Pouco antes de morrer, na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Armando Lages, em Maceió, o militante teria citado os nomes de vários rapazes que teriam iniciado o apedrejamento.
O homossexual sobrevivia de "bicos", como pequenos serviços domésticos para moradores. Segundo o delegado, era uma pessoa pacata e nunca teve o seu nome envolvido em confusões.

Esquartejado
Em 1993, outro crime bárbaro contra um homossexual ocorreu em Alagoas. O vereador Renildo José dos Santos, da cidade de Coqueiro Seco, foi esquartejado e queimado. O corpo foi jogado dentro de um rio no interior de Pernambuco, Estado vizinho.
Levantamento do Grupo Gay da Bahia registrou 1.960 assassinatos de homossexuais entre 1980 e 2000. São Paulo é o Estado onde acontece o maior número de crimes por perseguição sexual, de acordo com o estudo.
O Nordeste, no entanto, é a região que concentra o maior número de crimes definidos como homofóbicos, com um terço das ocorrências. Alagoas é o segundo lugar mais violento. Pernambuco é o primeiro na estatística.
No ano em que foi realizada a pesquisa, 2000, São Paulo teve 28 mortes. Pernambuco registrou 18 mortes e em Alagoas ocorreram dez assassinatos de homossexuais. Na maioria dos crimes, informa o estudo, há requintes de crueldade, como no caso do apedrejamento ocorrido no município de Maribondo.



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