São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2007

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Controladores de vôo reclamam de retaliações e abandono

DA AGÊNCIA FOLHA

Com o endurecimento do governo Lula em relação aos controladores de vôo e a divisão na categoria sobre quais atitudes tomar daqui para frente, o clima de tensão no interior dos Cindactas se agravou ontem. As reclamações vão de retaliações, supostamente cometidas por comandantes contra os operadores, até a fiscalização leniente, também por parte da chefia.
No Cindacta-3, com sede em Recife, a tensão entre os controladores e o comando aumentou depois da determinação de novas regras e restrições para os controladores de vôo, assinada pelo coronel-aviador José Alves Candez Neto, comandante do centro.
O documento reservado, ao qual a Folha teve acesso, restringe o ingresso e a circulação dos controladores na unidade militar. Eles só podem entrar 30 minutos antes do turno e são obrigados a sair no mesmo prazo após o fim do serviço.
Também foi bloqueado o acesso à internet e à rede interna de comunicação. Além disso, há determinação para que os controladores em férias não voltem "até segunda ordem".
O comando determina também que "deverá ser alocado um sanitário exclusivo para os controladores".
Um dos itens que mais desagradou aos controladores foi a obrigação de utilizarem um uniforme diferente dos demais membros da Aeronáutica, ou até mesmo trajes civis.
Segundo um dos controladores, que não quis se identificar, as medidas são uma forma de segregá-los em relação ao restante da equipe.
A reportagem entrou em contato com o tenente-coronel Marcos da Silva Lauro, responsável pelo setor de Comunicação Social do Cindacta-3. O oficial negou conhecimento de novas regras para o trabalho dos controladores de vôo.
Já no Cindacta-4 (região amazônica), segundo a ABCTA-Manaus (Associação Amazônica de Controladores de Tráfego Aéreo), com exceção do comandante local, Eduardo Carcavalo, os outros oficiais de chefia estão afrouxando tanto a fiscalização quanto a orientação aos operadores de vôo.
"A fiscalização efetiva feita pelos oficiais, seja para orientar ou para cobrar, deixou de existir um pouco. Os oficiais estão aparecendo bem menos no centro de controle", afirmou o sargento Wilson Aragão, presidente da ABCTA-Manaus.
Segundo Aragão, os controladores estão dispensados de fazer outras atividades militares, como serviços de guarda.
"De dezembro para cá, estamos trabalhando em uma escala limite e não sobra tempo para exercemos funções militares, como trabalhar na guarda ou comandar comissões."
Segundo a associação, o Cindacta ainda sofre com problemas nos equipamentos como radares e rádios, que comprometeriam o entendimento das mensagens emitidas.
Aparentemente, o Cindacta-2, em Curitiba, é onde o clima está mais tranqüilo. Os oficiais da Aeronáutica voltaram ontem a chefiar as equipes de controladores de vôo, após dois dias só dedicados a cuidar do patrimônio na sala onde estão instalados os equipamentos do centro de controle.
Lá, não havia notícia de retaliação e, antes da volta dos oficiais, os turnos preestabelecidos foram seguidos.
(MARCO BAHE, CÍNTIA ACAYABA, KÁTIA BRASIL e MARI TORTATO)


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