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VIOLÊNCIA
Fica Vivo, implantado no Morro das Pedras, combina repressão e mobilização da sociedade e teve custo "quase zero"
Projeto reduz homicídios em favela de BH
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O governo de Minas Gerais adotou o projeto de combate a homicídios que, desde agosto de 2002,
o Crisp (Centro de Estudos de
Criminalidade e Segurança Pública), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), vem desenvolvendo no Morro das Pedras, o aglomerado urbano mais
violento de Belo Horizonte.
Esse programa piloto, denominado Fica Vivo, tem como pilares
a repressão e a mobilização social
e será levado a outros 21 aglomerados urbanos do Estado.
A meta é reduzir em 20% os homicídios nesses lugares, especialmente entre os jovens. Nos cinco
primeiros meses de implantação
do projeto, o número de homicídios, tentativas e assaltos caiu cerca de 50% em relação aos cinco
meses anteriores à sua execução.
De março a julho de 2002, foram
17 homicídios, contra 9 mortes
entre agosto e dezembro.
No período, a taxa de mortes na
capital mineira, excluindo as seis
favelas consideradas violentas,
cresceu 11,6%, segundo o Crisp.
Com o Fica Vivo, os homicídios
no Morro das Pedras, considerando a taxa por 100 mil habitantes,
caíram 47,1%, comparando os
cinco meses que antecederam a
implantação do projeto com os
cinco meses seguintes. Na estatística das seis favelas violentas da cidade, incluindo o Morro das Pedras, a taxa caiu 26,6%.
Sobre a redução nas outras favelas, os pesquisadores têm como
hipótese o fato de a notícia sobre o
projeto no Morro das Pedras ter
se espalhado nos outros morros.
Seria a queda por extensão.
O responsável pela "oficialização" desse projeto é o sociólogo
Luiz Flávio Sapori, secretário-adjunto de Defesa Social de Minas
Gerais, ex-Secretaria da Segurança. "Trata-se de um projeto inovador e pluriinstitucional que oferece todas as condições para impactar as grandes metrópoles."
Do grupo de Intervenção Estratégica, que age na parte repressiva, fazem parte as polícias Militar,
Civil e Federal, o Ministério Público e a Justiça. Coube a eles identificar os criminosos e prendê-los.
Foram presas "três pessoas-chave", responsáveis por vários
crimes, segundo o sociólogo
Cláudio Beato Filho, coordenador
do Crisp. Por extensão, outros nove sumiram da favela ou passaram a viver escondidos, disse ao
Crisp um líder da comunidade.
A integração entre as instituições possibilitou a agilidade nas
prisões. Cada um dos órgãos designou uma pessoa para o projeto.
Tão logo as polícias prendiam,
um promotor fazia a denúncia,
que era analisada por um juiz.
A UFMG, a prefeitura, o Sebrae,
a Câmara de Dirigentes Lojistas,
ONGs, movimentos sociais e a comunidade cuidam da integração
social na favela. As instituições
empresariais, por exemplo, ofereceram bolsas de estudo profissionalizante e orientação para ações
microempresariais.
A prefeitura cuidou da assistência social e das melhorias em infra-estrutura, como iluminação e
praças públicas. ONGs promoveram palestras e atividades culturais e esportivas nas escolas, como
teatro e cinema.
O projeto de "Controle de Homicídios" em áreas de risco de
Minas, incorporado pelo Estado,
integra o Plano Emergencial de
Segurança Pública, que terá verba
da União. O custo das 16 ações,
entre elas a criação de um grupo
para combater o crime organizado, será de R$ 42 milhões -R$ 35
milhões do governo federal.
O projeto que menos exige
grandes somas é o de implantação
do controle de homicídios nas favelas. Segundo o Crisp, o Fica Vivo no Morro das Pedras teve custo "quase zero".
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