São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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VIOLÊNCIA

Aumento de 3% no 1º trimestre em relação ao mesmo período de 2005 é atribuído à melhora na captação de dados

São Paulo registra três estupros por dia

DA REPORTAGEM LOCAL

Três estupros por dia foram registrados no primeiro trimestre deste ano na cidade de São Paulo, segundo dados apresentados ontem pela Secretaria Estadual da Segurança Pública. O número representa um aumento de 3% em relação aos três primeiros meses do ano passado, enquanto em todas as outras regiões do Estado houve uma redução de casos.
Segundo o órgão, o crescimento é decorrente de uma melhora da captação de dados, impulsionada pelo projeto Bem-me-quer, que humanizou o atendimento das vítimas nas delegacias da capital. As mulheres são levadas da delegacia diretamente para uma unidade de saúde e lá recebem todas as orientações. O projeto, uma parceria com várias entidades, acabou com o atendimento pouco especializado feito nas delegacias, mas ainda precisa ser expandido para além da capital.
Para especialistas da área, no entanto, os 312 casos ainda estão bem distantes da realidade.
Jefferson Drezett, coordenador do serviço de violência sexual do Hospital Pérola Byington, o maior da América Latina, diz que na unidade chegam até 12 casos por dia de violência sexual contra a mulher e 70% são de penetração do pênis na vagina -a legislação, explica, só classifica essas situações como estupro. Ele concorda com a avaliação de que houve aumento das notificações.
"O ideal seria que o número de notificações dobrasse", afirmou, no entanto, o médico, que defende campanhas publicitárias constantes para que as mulheres levem os casos à polícia.
Ainda de acordo com Drezett, a realidade paulistana não é diferente da de outras grandes cidades do país e mesmo do mundo. "A tendência é admitir a violência como um fenômeno mundial, que atinge da mesma maneira culturas, raças e mesmo pessoas com padrões de vida diferentes."
A maioria das vítimas atendida pelo hospital é jovem, entre 14 e 18 anos. E a maior parte dos agressores é conhecido, como pais, padrastos, vizinhos, o que pode dificultar as notificações.
"É importante não ficar o estereótipo de que é sempre um maníaco que ataca a mulher na rua", afirma o médico.
M., 39, foi casada por 20 anos com um homem que a estuprou em diversas situações. Ela não denunciava a violência por causa das ameaças a ela e aos filhos. Em algumas ocasiões, relata, o marido a obrigava a tirar a roupa na frente das crianças, para "verificar" se havia estado com outros homens. O marido tinha um ciúme doentio, relata.
"Tudo acabou em dezembro do ano passado, quando ele quis me matar e fui à polícia", diz. Logo depois, foi atendida em uma casa de apoio e está sob tratamento.

Menos crimes violentos
As estatísticas divulgadas ontem pela secretaria mostram que no primeiro trimestre deste ano recuou em 2,6% a taxa de crimes violentos, em que estão incluídos, além do estupro, homicídios dolosos, latrocínios (roubo seguido de morte), roubos e seqüestros -os dados não contabilizam seqüestros relâmpago.
O total de homicídios dolosos registrado no primeiro semestre deste ano, 1.551, já iguala o Estado ao Rio de Janeiro, que tem uma população menor, destacou Túlio Khan, coordenador do estudo.
De acordo com o levantamento da secretaria, no primeiro trimestre deste ano o total de seqüestros ficou estável: foram 28 casos, mesmo número do ano passado. Foram registrados, ainda segundo a pasta, 14 casos a menos do que no último trimestre de 2005, "confirmando a tendência de queda observada desde 2003" na comparação dos primeiros trimestres.
No entanto, considerando-se todo o ano de 2005, havia ocorrido um aumento em relação a 2004. (FABIANE LEITE)


Colaborou Luiz Felipe Carneiro


Vítimas de violência sexual na Grande SP podem procurar a delegacia e também o Hospital Pérola Byington: avenida Brigadeiro Luís Antônio, 683. Telefone: 0/xx/ 11/3112-1181.


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