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VIOLÊNCIA
Aumento de 3% no 1º trimestre em relação ao mesmo período de 2005 é atribuído à melhora na captação de dados
São Paulo registra três estupros por dia
DA REPORTAGEM LOCAL
Três estupros por dia foram registrados no primeiro trimestre
deste ano na cidade de São Paulo,
segundo dados apresentados ontem pela Secretaria Estadual da
Segurança Pública. O número representa um aumento de 3% em
relação aos três primeiros meses
do ano passado, enquanto em todas as outras regiões do Estado
houve uma redução de casos.
Segundo o órgão, o crescimento
é decorrente de uma melhora da
captação de dados, impulsionada
pelo projeto Bem-me-quer, que
humanizou o atendimento das vítimas nas delegacias da capital. As
mulheres são levadas da delegacia
diretamente para uma unidade de
saúde e lá recebem todas as orientações. O projeto, uma parceria
com várias entidades, acabou
com o atendimento pouco especializado feito nas delegacias, mas
ainda precisa ser expandido para
além da capital.
Para especialistas da área, no
entanto, os 312 casos ainda estão
bem distantes da realidade.
Jefferson Drezett, coordenador
do serviço de violência sexual do
Hospital Pérola Byington, o
maior da América Latina, diz que
na unidade chegam até 12 casos
por dia de violência sexual contra
a mulher e 70% são de penetração
do pênis na vagina -a legislação,
explica, só classifica essas situações como estupro. Ele concorda
com a avaliação de que houve aumento das notificações.
"O ideal seria que o número de
notificações dobrasse", afirmou,
no entanto, o médico, que defende campanhas publicitárias constantes para que as mulheres levem
os casos à polícia.
Ainda de acordo com Drezett, a
realidade paulistana não é diferente da de outras grandes cidades do país e mesmo do mundo.
"A tendência é admitir a violência
como um fenômeno mundial,
que atinge da mesma maneira
culturas, raças e mesmo pessoas
com padrões de vida diferentes."
A maioria das vítimas atendida
pelo hospital é jovem, entre 14 e 18
anos. E a maior parte dos agressores é conhecido, como pais, padrastos, vizinhos, o que pode dificultar as notificações.
"É importante não ficar o estereótipo de que é sempre um maníaco que ataca a mulher na rua",
afirma o médico.
M., 39, foi casada por 20 anos
com um homem que a estuprou
em diversas situações. Ela não denunciava a violência por causa
das ameaças a ela e aos filhos. Em
algumas ocasiões, relata, o marido a obrigava a tirar a roupa na
frente das crianças, para "verificar" se havia estado com outros
homens. O marido tinha um ciúme doentio, relata.
"Tudo acabou em dezembro do
ano passado, quando ele quis me
matar e fui à polícia", diz. Logo
depois, foi atendida em uma casa
de apoio e está sob tratamento.
Menos crimes violentos
As estatísticas divulgadas ontem
pela secretaria mostram que no
primeiro trimestre deste ano recuou em 2,6% a taxa de crimes
violentos, em que estão incluídos,
além do estupro, homicídios dolosos, latrocínios (roubo seguido
de morte), roubos e seqüestros
-os dados não contabilizam seqüestros relâmpago.
O total de homicídios dolosos
registrado no primeiro semestre
deste ano, 1.551, já iguala o Estado
ao Rio de Janeiro, que tem uma
população menor, destacou Túlio
Khan, coordenador do estudo.
De acordo com o levantamento
da secretaria, no primeiro trimestre deste ano o total de seqüestros
ficou estável: foram 28 casos, mesmo número do ano passado. Foram registrados, ainda segundo a
pasta, 14 casos a menos do que no
último trimestre de 2005, "confirmando a tendência de queda observada desde 2003" na comparação dos primeiros trimestres.
No entanto, considerando-se
todo o ano de 2005, havia ocorrido um aumento em relação a
2004.
(FABIANE LEITE)
Colaborou Luiz Felipe Carneiro
Vítimas de violência sexual na Grande SP
podem procurar a delegacia e também o
Hospital Pérola Byington: avenida Brigadeiro Luís Antônio, 683. Telefone: 0/xx/
11/3112-1181.
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