São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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JUSTIÇA

Jornalista se recusou a falar sobre o assassinato da ex-namorada ao juiz; populares chamaram réu de "assassino"

Pimenta Neves silencia em julgamento

Caio Guatelli/Folha Imagem
O jornalista Antonio Pimenta Neves chega ao Fórum de Ibiúna para o primeiro dia do seu julgamento pela morte da ex-namorada


DOS ENVIADOS ESPECIAIS A IBIÚNA

No primeiro dia de julgamento pela morte da ex-namorada Sandra Gomide, 32, o jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, 69, entrou ontem no Fórum de Ibiúna (64 km de SP) sob gritos de assassino e se recusou a falar sobre o crime ao juiz e aos sete jurados.
Questionado pelo juiz Diego Ferreira Mendes, de Ibiúna, se queria se defender da denúncia de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e recurso que impossibilitou defesa da vítima), Pimenta Neves disse que preferia "não se manifestar".
O jornalista é réu confesso do assassinato da ex-namorada. O crime ocorreu em 20 de agosto de 2000, em um haras em Ibiúna. Ele deu dois tiros em Sandra: o primeiro pelas costas e o segundo, à queima-roupa, no ouvido esquerdo, quando ela já estava caída.
O júri popular, iniciado às 9h21 de ontem, após várias tentativas de adiamento feitas pela defesa, estava em andamento até a conclusão desta edição. A previsão é que o resultado do julgamento seja conhecido hoje à noite.
Pimenta Neves, ex-diretor de redação do jornal "O Estado de S.Paulo", tem o direito constitucional de não se manifestar mesmo na Justiça. Para o Ministério Público, porém, a decisão reforça a tese da acusação. "Quem cala é porque aceita o que já está demonstrado nos autos, que mostram que o ocorrido foi um assassinato brutal", disse Sergei Cobra Arbex, assistente da Promotoria.
Essa foi a segunda vez que Pimenta Neves se recusou a falar sobre o crime à Justiça. Em 2000, durante a fase inicial do processo criminal, ele afirmou que estava "confuso" e não tinha condições de falar durante uma audiência.
O depoimento mais longo de Pimenta Neves foi dado à polícia, também em 2000, quando afirmou que foi traído "pessoalmente e profissionalmente" por Sandra.
A defesa do jornalista alega que ele agiu sob forte emoção e não premeditou o assassinato.

Pena
Pimenta Neves pode ser condenado a uma pena entre 12 e 30 anos, segundo o Ministério Público. Mas, caso isso ocorra, seus advogados irão recorrer. Anteontem, o Tribunal de Justiça negou o pedido antecipado da defesa para que ele, mesmo condenado, recorra da decisão em liberdade.
Dos sete jurados escolhidos para o júri popular, quatro são mulheres. Além dela, outras cinco pessoas foram recusadas para compor o corpo de jurados. A defesa rejeitou quatro mulheres. E a acusação, um homem.
Após a escolha do júri, foi iniciada a leitura dos autos - a maior parte de depoimentos favoráveis a Pimenta Neves de jornalistas que trabalharam com ele. Hoje serão ouvidas oito testemunhas.
No início do julgamento, os advogados de Pimenta Neves voltaram a apontar a nulidade do processo. Segundo a advogada Ilana Müller, houve cerceamento da defesa. Ela solicitou que fosse ouvida uma testemunha, o jornalista Washington Novaes, que não foi localizada. Também fez ao juiz de Ibiúna pedidos, não concedidos, de acesso ao processo criminal.
O juiz voltou a negar o pedido de adiamento do júri. "Se os autos não estavam à disposição, foi justamente por causa dos pedidos da defesa", afirmou Mendes. Segundo ele, a defesa de Pimenta Neves protocolou sete solicitações -entre elas pedidos de adiamento do júri- nos últimos seis dias.
Para o Ministério Público, a negativa aos pedidos mostra que eles eram apenas protelatórios.

Colaboraram o "Agora" e a Folha Online


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