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BARBARA GANCIA
O meu leitor mais importante
Quando vi a foto da bandeira a meio mastro, na entrada do Palácio do Planalto, não resisti e chorei feito criança
TINHA ACABADO DE LER a notícia na internet, e ainda estava
atordoada diante da tela do
computador, no domingo à tarde,
quando uma colega da Bandnews
FM (onde também sou colunista) ligou pedindo que eu desse um depoimento sobre a morte de Octavio
Frias de Oliveira.
Disse que falaria, mas que antes
precisava me recompor, e levei um
tempão até estar segura de que conseguiria dizer mais que duas palavras sem cair em prantos. Seu Frias
morreu às 15h25, e eu só consegui
entrar no ar às 20h.
No dia seguinte, no velório, a
quantidade de funcionários de todos
os escalões, ex-funcionários e amigos da família com os olhos inchados
de choro era impressionante. Quem
já viu a morte de um senhor de 94
anos causar tamanha tristeza?
No meu depoimento à Bandnews
FM, contei que um dia recortei do
jornal uma foto do seu Frias (é uma
imagem do publisher da Folha sorridentíssimo, como sempre, na década de 70, diante da maquete de uma
máquina rotativa), que a colei na parede e que todos os que entram na
minha casa pela primeira vez perguntam: "E esse aí, quem é?"
Que eu tenha uma foto do meu patrão na parede da minha casa diz
mais sobre ele do que sobre mim. De
patrão a gente geralmente não gosta,
apenas respeita. Mas, depois de 22
anos na Folha, ainda estou para conhecer alguém que tenha passado
pelo prédio da alameda Barão de Limeira e não seja fã do seu Frias.
Que as pessoas que entram na minha humilde morada não conheçam
as feições do publisher do maior jornal do país é outro dado que diz muito sobre o seu Frias, um homem sem
frivolidades que raramente concedia entrevistas.
Ao longo desta semana, muita
gente veio falar comigo sobre Octavio Frias de Oliveira. Vizinhos que
cruzei no elevador me deram os pêsames, amigos do outro lado do
mundo, que sabiam da minha paixão por ele, telefonaram para expressar seus sentimentos, e até minha sobrinha, de 22 anos, ligou para
me consolar e dizer: "Puxa, tia, sabia
que você gostava dele, mas não tinha
idéia de que o teu patrão era uma
pessoa tão importante". Como minha sobrinha, a maioria, e até o público leitor da Folha, não tinha
idéia.
Mas quem trabalha na imprensa
ou esteve empenhado -desde
1962, quando Frias comprou a Folha de S. Paulo em sociedade com
Carlos Caldeira Filho e Caio Alcântara Machado-, em construir a democracia brasileira sabe muito
bem da importância e da trajetória
deste homem singular.
Por estar entre os que conhecem
o significado da obra do seu Frias,
eu me sinto honrada. Duplamente
honrada em lembrar que, toda vez
que nos encontrávamos, ele abria
um sorriso maroto e dizia: "Sou seu
leitor, viu?" Eu sempre respondia,
em tom de brincadeira: "O único
que realmente conta, seu Frias".
Tenho a impressão de que Octavio Frias de Oliveira ia se incomodar com as homenagens prestadas
a ele ao longo desta semana e as
tantas que ainda virão. Mas confesso que, quando vi a foto da bandeira nacional a meio mastro, na entrada do Palácio do Planalto, em sinal de luto por ele, não resisti e
chorei feito criança de colo. Foi um
privilégio ter um leitor tão extraordinário.
barbara@uol.com.br
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