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"Acostumados", vizinhos até riem em meio aos tiros
DA SUCURSAL DO RIO
Enquanto policiais e
traficantes trocavam tiros,
jornalistas corriam em desespero à procura de abrigos e comerciantes desciam as portas, parte dos
moradores do entorno da
Vila Cruzeiro agia como se
já estivesse acostumada a
tudo aquilo.
Pela manhã, o ambiente
nos botequins lotados, na
porta das lojinhas fechadas e debaixo das marquises era até de galhofa.
A cada explosão de granada, a cada rajada de arma automática e a cada
corrida de repórter, as
pessoas riam com gosto.
Algumas gargalhavam.
Entre elas, dezenas de
crianças e adolescentes
que aproveitaram o fechamento das escolas públicas da região para acompanhar o tiroteio de perto. A
cada passagem do blindado Caveirão, elas vaiavam.
Aos repórteres, pediam
para serem filmados.
As mesas de ferro na varanda do boteco Pinto
Reis -esquina da avenida
Nossa Senhora do Prado
com a rua Professor Otávio Freitas- ficaram
cheias durante todo o dia.
Luana Garcia, 30, dizia
sorrindo ter recebido minutos antes um telefonema da vizinha. "Ela me falou: "Lu, tua casa tá toda
furada'", contava ela para
os colegas de copo.
Na oficina do lado oposto ao bar, três Kombis foram atingidas por tiros
disparados do alto da favela. "Eu parei aqui para trocar um pneu. Agora, vou
ter que fazer lanternagem", disse, também sorridente, José Carlos Miranda, 38, enquanto observava sua Kombi, que teve a lataria perfurada e
dois vidros arrebentados
por tiros de fuzil.
Embora com as portas
fechadas, lojistas e empregados não arredaram pé
do local. Chegaram a colocar bancos nas calçadas
para ver e opinar sobre os
tiroteios. Não levantavam
nem quando o barulho dos
tiros e explosões se intensificava. "Fica tranqüilo,
meu amigo. As balas estão
passando por cima, não
vão cair aqui não", disse,
com calma, a aposentada
Maria das Mercedes, 66.
(SERGIO TORRES)
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