São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

Próximo Texto | Índice

CRIME NO SHOPPING

Ex-estudante, que matou três pessoas, passará 30 anos preso, o máximo possível no país; advogados vão recorrer

Atirador é condenado a 120 anos de prisão

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de quatro anos após invadir com uma submetralhadora a sala de um cinema de um shopping e assassinar três pessoas, o ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 29, foi condenado, no final da noite de ontem, a 120 anos e seis meses de prisão.
De pé, o réu ouviu a sentença sem esboçar nenhuma reação -comportamento que manteve durante os três dias que durou seu julgamento. Deixou o plenário com um coro de "assassino", gritado por parentes e amigos das vítimas, que acompanharam todo o processo na primeira fila do Fórum da Barra Funda (zona oeste de SP). Eles receberam a decisão com aplausos e choro.
Pela decisão, Meira recebeu pena de 19 anos e seis meses por cada um dos homicídios que cometeu, mais 13 anos para cada uma das quatro tentativas de homicídio e oito meses para cada uma das pessoas que expôs a risco -15 no total, número de balas que restaram em sua arma.
A decisão fixa 110 anos e seis meses de pena de reclusão (regime fechado) e dez anos de detenção (pode ser cumprido no regime semi-aberto). A legislação brasileira, porém, prevê reclusão por, no máximo, 30 anos. Mas a sentença de ontem assegura que ele cumpra todo esse período -30 anos- em regime fechado.
Logo após a sentença ser anunciada, os advogados de defesa anunciaram que irão recorrer.
Os jurados, quatro mulheres e três homens, desprezaram a tese de semi-imputabilidade (de que o ex-estudante tinha apenas consciência parcial dos fatos), principal argumento da defesa.
Segundo a juíza Maria Cecília Leone, pesaram na sentença o uso de cocaína e o fato de ele não ter dado chance de defesa às vítimas.
"As vítimas não tinham responsabilidade nenhuma sobre os problemas do réu. O réu queria matar, e em grande estilo", disse a juíza. Ela ressaltou ainda que Meira, por ser estudante de medicina, tinha condições de saber quais os efeitos do uso da cocaína e da suspensão de seu tratamento psiquiátrico. E fez muito pouco, destacou a juíza, para tentar reverter seu quadro comportamental.
Nos debates finais do julgamento, os próprios advogados disseram que Meira não era inocente, mas que ele deveria ser beneficiado com a semi-imputabilidade -o que poderia reduzir a pena em um terço a dois terços, segundo o Código Penal.
No final do julgamento, os advogados disseram que o júri é nulo porque desprezou o fato de ele ter confessado o crime. Também criticaram o fato de ele ter sido considerado capaz de responder por seus atos e de ter premeditado o crime.
Prevaleceu a tese -reforçada pelo depoimento do psiquiatra de Meira, José Cassio do Nascimento Pitta- de que o ex-estudante tinha transtornos de personalidade esquizóide, o que não o impedia de ter consciência de seus atos.
O promotor Norton Geraldo Rodrigues da Silva disse que o ex-estudante recebeu a "pena que deveria receber pelos atos bárbaros que cometeu". Mas criticou a legislação que prevê reclusão máxima de 30 anos.
Parentes das vítimas de Meira também engrossaram as críticas à legislação. "O Código Penal precisa ser revisto. A pena de 30 anos não é suficiente. Ele vai voltar a cometer crimes quando deixar a prisão", disse Marília de Freitas Toledo, prima da estudante Fabiana Lobão Freitas, que tinha 25 anos quando morreu.
"[A decisão] é um alívio, é uma sensação de Justiça. Embora isso não traga a Fabiana de volta", disse Maria Regina de Freitas, tia de Fabiana.
Além de Fabiana, também foram assassinados a publicitária Hermè Luisa Jatobá Vadasz, 46, e o economista Júlio Maurício Zeimaitlis, 28.
O crime aconteceu no dia 3 de novembro de 1999. Meira disparou contra espectadores do filme "Clube da Luta", em uma sessão de cinema no shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo.
O então estudante do sexto ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo deu um tiro no espelho do banheiro do shopping antes de invadir a sala de cinema na noite do crime.
No dia seguinte, Meira disse à polícia que tentava se livrar de vozes que ouvia e de perseguidores imaginários.


Próximo Texto: Acusação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.