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CRIME NO SHOPPING
Ex-estudante, que matou três pessoas, passará 30 anos preso, o máximo possível no país; advogados vão recorrer
Atirador é condenado a 120 anos de prisão
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de quatro anos após invadir com uma submetralhadora a
sala de um cinema de um shopping e assassinar três pessoas, o
ex-estudante de medicina Mateus
da Costa Meira, 29, foi condenado, no final da noite de ontem, a
120 anos e seis meses de prisão.
De pé, o réu ouviu a sentença
sem esboçar nenhuma reação
-comportamento que manteve
durante os três dias que durou seu
julgamento. Deixou o plenário
com um coro de "assassino", gritado por parentes e amigos das vítimas, que acompanharam todo o
processo na primeira fila do Fórum da Barra Funda (zona oeste
de SP). Eles receberam a decisão
com aplausos e choro.
Pela decisão, Meira recebeu pena de 19 anos e seis meses por cada um dos homicídios que cometeu, mais 13 anos para cada uma
das quatro tentativas de homicídio e oito meses para cada uma
das pessoas que expôs a risco
-15 no total, número de balas
que restaram em sua arma.
A decisão fixa 110 anos e seis
meses de pena de reclusão (regime fechado) e dez anos de detenção (pode ser cumprido no regime semi-aberto). A legislação
brasileira, porém, prevê reclusão
por, no máximo, 30 anos. Mas a
sentença de ontem assegura que
ele cumpra todo esse período
-30 anos- em regime fechado.
Logo após a sentença ser anunciada, os advogados de defesa
anunciaram que irão recorrer.
Os jurados, quatro mulheres e
três homens, desprezaram a tese
de semi-imputabilidade (de que o
ex-estudante tinha apenas consciência parcial dos fatos), principal argumento da defesa.
Segundo a juíza Maria Cecília
Leone, pesaram na sentença o uso
de cocaína e o fato de ele não ter
dado chance de defesa às vítimas.
"As vítimas não tinham responsabilidade nenhuma sobre os problemas do réu. O réu queria matar, e em grande estilo", disse a
juíza. Ela ressaltou ainda que Meira, por ser estudante de medicina,
tinha condições de saber quais os
efeitos do uso da cocaína e da suspensão de seu tratamento psiquiátrico. E fez muito pouco, destacou a juíza, para tentar reverter
seu quadro comportamental.
Nos debates finais do julgamento, os próprios advogados disseram que Meira não era inocente,
mas que ele deveria ser beneficiado com a semi-imputabilidade
-o que poderia reduzir a pena
em um terço a dois terços, segundo o Código Penal.
No final do julgamento, os advogados disseram que o júri é nulo porque desprezou o fato de ele
ter confessado o crime. Também
criticaram o fato de ele ter sido
considerado capaz de responder
por seus atos e de ter premeditado
o crime.
Prevaleceu a tese -reforçada
pelo depoimento do psiquiatra de
Meira, José Cassio do Nascimento
Pitta- de que o ex-estudante tinha transtornos de personalidade
esquizóide, o que não o impedia
de ter consciência de seus atos.
O promotor Norton Geraldo
Rodrigues da Silva disse que o ex-estudante recebeu a "pena que
deveria receber pelos atos bárbaros que cometeu". Mas criticou a
legislação que prevê reclusão máxima de 30 anos.
Parentes das vítimas de Meira
também engrossaram as críticas à
legislação. "O Código Penal precisa ser revisto. A pena de 30 anos
não é suficiente. Ele vai voltar a
cometer crimes quando deixar a
prisão", disse Marília de Freitas
Toledo, prima da estudante Fabiana Lobão Freitas, que tinha 25
anos quando morreu.
"[A decisão] é um alívio, é uma
sensação de Justiça. Embora isso
não traga a Fabiana de volta", disse Maria Regina de Freitas, tia de
Fabiana.
Além de Fabiana, também foram assassinados a publicitária
Hermè Luisa Jatobá Vadasz, 46, e
o economista Júlio Maurício Zeimaitlis, 28.
O crime aconteceu no dia 3 de
novembro de 1999. Meira disparou contra espectadores do filme
"Clube da Luta", em uma sessão
de cinema no shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo.
O então estudante do sexto ano
da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo deu
um tiro no espelho do banheiro
do shopping antes de invadir a sala de cinema na noite do crime.
No dia seguinte, Meira disse à
polícia que tentava se livrar de vozes que ouvia e de perseguidores
imaginários.
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