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EDUCAÇÃO
Segundo pedagoga, objetivo do projeto é desenvolver a auto-estima das crianças negras; iniciativa é inédita no país
Alunos aprendem iorubá em escola da BA
MARCOS VITA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Alunos da rede pública de Salvador estão sendo alfabetizados
com a ajuda da cultura africana. A
experiência didática está ocorrendo com as 350 crianças de 1ª a 4ª
séries do primeiro grau da escola
Eugênia Anna dos Santos. De
acordo com o Conselho Nacional
de Educação, a iniciativa é inédita
no país.
A escola, que fica no terreiro de
candomblé Ilê Axé Opô Afonjá,
resolveu sistematizar, há dois
anos, o ensino da cultura africana
por meio de projetos pedagógicos
relacionados ao tema e, também,
adotar livros didáticos que valorizam o negro.
Os alunos, quase todos negros e
moradores das comunidades vizinhas ao terreiro, aprendem a história, noções da língua do povo
iorubá e parábolas de mitos e orixás africanos.
O povo iorubá habita a Nigéria e
uma parte deles chegou à Bahia
há quatro séculos como escravos.
As crianças da escola têm, entre
outros hábitos, o de saudar o visitante com sonoros "kuawró" e
"kabó", que significam "bom dia"
e "seja bem-vindo", respectivamente, em iorubá.
Os oito professores da escola
realizam reuniões quinzenais para avaliar o conteúdo pedagógico
desenvolvido com os alunos.
A capacitação deles para a cultura africana é feita em parceria
com o núcleo de estudo de teatro
popular da Escola de Belas Artes
da UFBa (Universidade Federal
da Bahia).
Auto-estima
"A proposta é reconstruir a imagem do negro para essas crianças
e desenvolver a auto-estima delas
como cidadãs negras. Para isso é
como se tivéssemos que desarmar
uma bomba por dia", afirma a pedagoga Vanda Machado, idealizadora do projeto.
Ela cita como exemplo de dificuldade a falta de livros didáticos
recomendados pelo MEC com os
quais se pode trabalhar a auto-estima da criança negra.
"As fotografias mostram o negro sempre sujo e na miséria, enquanto o branco é feliz e tem aspecto limpo e de riqueza. Como
resultado, quando mostramos o
desenvolvimento do povo iorubano, nem os professores acreditam", revela Vanda.
Para resolver o problema da falta de material didático, a escola
está desenvolvendo seus próprios
livros, que contêm histórias do
povo iorubá e da comunidade que
habita o terreiro Ilê Axé Opô
Afonjá. "Desta forma, a cultura
afro entra contextualizada nas
histórias, em peças teatrais e em
números musicais desenvolvidos
pelos próprios alunos", afirma a
pedagoga.
Vanda já escreveu dois dos livros didáticos utilizados pela escola em parceria com o marido, o
ator baiano Carlos Petrovich.
Erivaldo Conceição Pedreira,
12, estudante da 3ª série, diz adorar a cultura afro. Na escola, além
de estudar, ele joga capoeira, toca
atabaque e berimbau. "Acho bonitos os rituais, a ginga da capoeira Angola, o toque dos tambores",
afirma o garoto.
Além do barracão onde se praticam os rituais, há também o primeiro museu do candomblé do
Brasil, fundado em 1984.
Com o projeto, a pedagoga diz
enxergar a chance de dar um basta na história de preconceito das
escolas.
"Sofri na pele a discriminação
por ser negra em uma escola convencional. Por isso em cada uma
dessas crianças há a esperança de
acabar com essa tradição de preconceito", afirma ela.
Mais informações sobre a escola
podem ser obtidas no site escolaeugeniaanna@zipmail.com.br.
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