São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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FRONTEIRA FINAL

Serviço, que existe nos EUA desde 1996, é oferecido por empresa de São Caetano do Sul há cerca de dois meses

Funerária leva cinzas de mortos ao espaço

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros que quiserem garantir a ascensão aos céus após a morte dispõem, há cerca de dois meses, de um serviço inédito no país: uma funerária em São Caetano do Sul (Grande São Paulo) fez uma parceria com uma empresa norte-americana para lançar em foguetes parte das cinzas de seus clientes cremados.
Até agora, só o próprio dono da funerária, Celso Sepúlvida, contratou o serviço. Mas, para ele, é apenas uma questão de tempo para a clientela aparecer. "Talvez isso auxilie cientistas, pesquisadores, numa era mais avançada. Ainda estamos descobrindo coisas sobre o Egito. Para quem gosta de história, é uma coisa muito bonita. É um registro para o futuro", afirma o dono da GS Planos Assistenciais, que responde pelo serviço no Brasil.
O apelo publicitário no site da empresa (www.gsplanos.com.br) segue a mesma linha de argumentação: "Pai, pense, seria melhor ter uma gravata ou ser imortalizado como um pioneiro espacial? Um CD para o Junior ou sua mensagem especial para as estrelas? Quer melhor presente de aniversário do que dar a alguém a oportunidade de participar de uma missão espacial de verdade?"
A empresa responsável pelo lançamento das cápsulas com as cinzas é a Celestis, que oferece o serviço desde 1996 nos EUA. O próximo lançamento, previsto para o segundo semestre deste ano, levará cerca de cem cápsulas, de acordo com o site da empresa (www.celestis.com).
Acompanhando cada cápsula, segue o nome da pessoa e algumas informações sobre sua vida. O material pega uma "carona" nos foguetes da empresa SpaceX, que trabalha com lançamentos privados de naves espaciais.
Por enquanto, porém, atingir o reino dos céus é algo mais acessível aos ricos. Afinal, quem quiser se despedir da vida terrena de forma tão incomum terá de desembolsar, no mínimo, US$ 995 -o que equivale a R$ 3.100. O preço, porém, pode ultrapassar o de um carro popular e chegar a US$ 12.500 -cerca de R$ 39.200.
A opção mais barata consiste no lançamento de 1 grama de cinzas na órbita terrestre, em satélites parecidos com os que são utilizados pelos sistemas de comunicação. O serviço é considerado completo após a cápsula dar uma volta em torno da Terra. A previsão, porém, é que os vôos durem anos. Por US$ 5.300, é possível lançar 7 g para fazer a mesma trajetória.
Já quem se dispuser a pagar US$ 12.500 pode escolher entre ter 1 g de suas cinzas lançado rumo ao "espaço profundo" ou enviado à Lua -nesse caso, o material pode tanto ficar na órbita lunar como pousar na superfície do satélite.
Para as duas primeiras opções, há um lançamento previsto no segundo semestre deste ano. Já em relação às duas últimas, ainda não há data prevista.
Em caso de falhas, a família pode optar pelo reembolso de 90% do valor ou por um novo lançamento. A quantidade de cinza lançada equivale a uma parte mínima da que é produzida na cremação -cerca de 1,5 kg no caso de um homem adulto.
Ao retornar à atmosfera terrestre, o satélite entra em processo de combustão, transformando-se, segundo a própria empresa, no que se costuma chamar de "estrela cadente".


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