São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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LEIS
SP quer fazer do Carandiru escola e centro cultural

EUNICE NUNES
especial para a Folha


São Paulo terá uma nova área de educação e lazer, espalhada em 427 mil metros quadrados, dos quais 60 mil metros quadrados são de mata atlântica original, a apenas 1.800 metros da Praça da Sé. Onde? No Carandiru. Lá mesmo, onde hoje estão presas cerca de 9.300 pessoas.
Com o programa de transferência de presos para os novos estabelecimentos prisionais, que começa em agosto, inicia-se o processo de desativação do Complexo do Carandiru.
A operação começa pela Casa de Detenção, que, segundo o cronograma da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, deve estar desocupada até junho do ano que vem.
"O futuro do Carandiru será decidido em conjunto com a sociedade, por meio de suas entidades representativas. Nossa idéia é transformá-lo de área de exclusão social em área de inclusão social. Mas vamos discutir com os interessados o que fazer e como fazer", diz João Benedicto de Azevedo Marques, secretário da Administração Penitenciária.
A proposta da secretaria é criar um grande centro de aprendizado profissionalizante, com o desenvolvimento de programas de formação prática voltados para a produção artesanal e a pequena indústria.
O projeto incluiria também a construção de um centro cultural, de um conjunto poliesportivo e de um estacionamento.
Na restauração dos edifícios da Casa de Detenção, assim como na manutenção das instalações, poderia ser usada mão-de-obra de presos do regime semi-aberto e também de condenados à prestação de serviços à comunidade.
"A idéia de devolver o Carandiru à cidade é muito boa. Seria um belo presente. Só apelo para o espírito cívico de nossos vereadores, para que modifiquem logo a lei de zoneamento e, assim, permitam a transformação da área", diz Rubens Approbato Machado, presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).
Carlos Bratke, arquiteto e urbanista, também aprova a idéia. "Não faz sentido uma penitenciária inserida na malha de atividades urbanas. Nenhuma cidade do mundo tem um Carandiru. As prisões devem ficar em zonas mais periféricas, onde não há possibilidade de expansão urbana", diz.
Bratke cita também os chamados "cadeiões", que ficam nas avenidas marginais. "Foi uma infeliz invenção, que levou à deterioração e desvalorização da área", afirma.
Approbato Machado ressalta, no entanto, que retirar os presos do Carandiru é uma tarefa difícil.
"É muita gente para ser transferida, e o governo Covas, embora tenha feito um grande esforço, não criou novas vagas prisionais, apenas construiu vagas suficientes para abrigar a atual população carcerária", diz.
Ele teme que o Carandiru seja novamente necessário para acomodar presos e que os projetos de devolvê-lo à cidade não saiam do papel. "Espero que não", diz.



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