São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AIDS
De um terço a dois terços das pessoas que se tratam com combinação de medicamentos apresentam problema
Coquetel engorda até 67% dos pacientes

AURELIANO BIANCARELLI
JAIRO BOUER
enviados especiais a Genebra

A 12ª Conferência Mundial da Aids, em Genebra, acabou ontem em tom de comedimento. Cientistas e militantes concordaram que é preciso aprender a conviver com o HIV enquanto se apressam as pesquisas e se aperfeiçoam programas de prevenção. Mais do que nunca, é preciso correr.
Porque o vírus não pára, lembraram. Junto ao grande palco do encerramento, um painel luminoso anunciava que uma pessoa é infectada a cada cinco segundos, no mundo. Durante os 90 minutos do encerramento, 1.080 homens ou mulheres teriam sido infectados.
Genebra mostrou-se realista ao confirmar que a cura ainda pode estar longe. Mas animou com novas drogas e estratégias que acenam com formas mais eficientes de manter o vírus sobre controle.
Uma das preocupações manifestadas é com o efeito do coquetel. Várias pesquisas mostraram que os remédios estão causando transtornos, embora não se saiba a dimensão nem a porcentagem de pacientes atingidos.
Um estudo revelado nesse último dia trouxe novos dados. Segundo o trabalho, de um terço a dois terços dos pacientes que tomam coquetel com um inibidor da protease -uma das enzimas do vírus- tiveram problemas de distribuição de gorduras no corpo.
Andrew Carr, do St. Vincent's Hospital de Sidney, na Austrália, anunciou ontem que os pacientes tiveram perda de gordura em braços, pernas e face. E ganharam depósito de gordura na barriga, pescoço e ombros. Mas só 12%, de acordo com o estudo, têm alterações mais severas.
O nível do HDL colesterol (tipo de gordura mais protetor para o coração) caiu em cerca de um terço dos pacientes, mas se manteve estável ao longo do acompanhamento (cerca de dois anos).

Nova droga
Um estudo inédito apresentado no último dia da conferência mostrou uma nova possibilidade de tratamento com uma droga que ainda está em fase de teste. O remédio faz parte de uma nova geração de inibidores de protease e tem apenas uma sigla (ABT 378).
Em combinação com outro inibidor (ritonavir), ele tornou a contagem de vírus indetectável em 91% dos pacientes no final de 24 semanas. Houve poucos efeitos colaterais. Os dois poderiam compor um único comprimido, tomado duas vezes ao dia.
O esquema com dois inibidores da protease é uma das alternativas de tratamento apontadas em Genebra. O esquema com dois inibidores da transcriptase foi praticamente banido dessa conferência.


Aureliano Biancarelli e Jairo Bouer viajaram a convite dos laboratórios Merck Sharp & Dohme e Abbot



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.