|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Médicos temem que pacientes parem tratamento devido aos efeitos colaterais dos remédios
Coquetel traz riscos que assustam
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
Médicos e ativistas que trabalham com portadores do vírus
HIV temem que os efeitos colaterais do coquetel anti-Aids faça
com que pacientes desistam de
se beneficiar do tratamento.
"Precisamos evitar o pânico.
Os riscos que o coquetel pode
trazer ainda são menores que os
benefícios", diz o infectologista
Eduardo Sprinz, do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (RS).
Relatos médicos recentes
apontam para a ocorrência de
uma lipodisfunção -alteração
no metabolismo de gorduras-
em pacientes usuários de inibidores de protease (componente
do coquetel mais eficaz no controle da carga viral).
Algumas pessoas passaram a
ter barrigas grandes, enquanto
pernas, braços e rostos ficaram
muito finos. Outros desenvolveram um depósito de gordura na
nuca, que ficou conhecido com
"corcova de búfalo".
Mário Scheffer, diretor do
Grupo Pela Vidda, entidade que
trabalha com orientação e apoio
aos portadores de HIV, afirmou
que a entidade tem convidado
profissionais para fazer esclarecimentos aos soropositivos.
"Ainda não há um temor coletivo, mas uma certa frustração.
Os pacientes vêem que o medicamento não é aquela maravilha.
Além do mais, fica uma incógnita em relação aos efeitos que pode trazer a longo prazo", diz.
Apesar de não haver levantamentos sobre a incidência desses
efeitos, médicos brasileiros afirmam que os pacientes com esses
quadros ainda são minoria.
O infectologista João Mendonça da Silva, chefe do Departamento de Moléstias Infecciosas
do Servidor Público de São Paulo, teve de usar seu poder de persuasão para convencer uma paciente a não interromper o tratamento.
"Seus seios estão aumentando
e seus braços, pernas e quadris
estão diminuindo de tamanho.
Ela queria mudar a medicação
com medo de perder sua feminilidade no aspecto visual."
Silva detectou lipodistrofia em
apenas três dos 90 pacientes de
seu consultório que tomam inibidores de protease.
De acordo com ele, enquanto
os efeitos atingem apenas o aspecto estético em pequenas proporções, não há motivo para a
revisão do tratamento.
O infectologista Caio Rosenthal, do Emílio Ribas, diz que
entre 40% e 50% de seus pacientes desenvolveram algum tipo de
efeito colateral causado pelo inibidor de protease. Segundo ele,
alguns preferem não tomar o coquetel a ter seus corpos deformados. "É preocupante porque
essa é a única opção de tratamento, principalmente para
doentes em estado avançado."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|