São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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RETRATOS DO BRASIL

Quase 320 mil pessoas, o equivalente à população de Bauru (interior de SP), habitam lares unipessoais

Centro é reduto de quem vive só em SP

EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO

As pessoas que moram sozinhas na cidade de São Paulo se concentram na região central e em distritos das zonas oeste e sul próximos ao centro. Em 2000, ano do último censo, elas somavam 318.080 na capital e ocupavam 10,7% dos lares -um crescimento de 25,9% em relação a 1991, quando representavam 8,5% dos domicílios.
Levantamento feito pela Folha, com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), permitiu fazer o mapeamento dos chamados domicílios unipessoais da capital paulista.
O distrito República possui o maior percentual de residências com um morador, totalizando 37,1% das moradias da área. Na região central, há outros seis distritos com mais de 20% (a média da cidade é de 10,7%): Bela Vista (31,0%), Consolação (29,9%), Santa Cecília (28,1%), Sé (26,6%), Liberdade (24,7%) e Brás (20,9%).
A concentração elevada se estende em direção à zona oeste: Jardim Paulista (26,8%), Barra Funda (23,9%), Pinheiros (22,9%) e Itaim Bibi (21,8%).
Com menos intensidade, percentuais elevados são detectados na zona sul: Moema (24,0%), Vila Mariana (19,9%), Saúde (16,2%) e Campo Belo (15,0%). Nas zonas norte e leste, os distritos não atingem a marca de 15%.
"A concentração de unipessoais é uma tendência em bairros de classe média em que há edifícios mais antigos, sem os confortos que passaram a ser incorporados às construções a partir dos anos 70, como áreas comuns e de lazer", pondera Luiz Antonio Pinto de Oliveira, 55, chefe do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE.
"De um modo geral, são regiões pouco procuradas por famílias com filhos, mas que são atraentes para as pessoas que moram sozinhas", diz Ana Amélia Camarano, 50, coordenadora da área de População e Família do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Dirce Koga, 38, pesquisadora do Núcleo de Seguridade Social e Assistência Social da PUC-SP, destaca a diminuição da população nos distritos paulistanos que têm alta proporção de lares unipessoais.
Analisando os dados dos censos, são verificadas, de 1991 a 2000, quedas significativas da população total nos distritos com grande concentração de unipessoais.
Segundo Koga, esse decréscimo populacional mostra o êxodo de famílias das áreas tradicionais. As de baixa renda fogem do aluguel e procuram um imóvel próprio na periferia. As de altos rendimentos migram em busca de segurança e de qualidade de vida em condomínios de alto padrão.
Sérgio Lembi, 44, vice-presidente de Locação do Secovi-SP (sindicato das imobiliárias e construtoras), ressalta perfis diferentes do chefe de domicílio unipessoal.
Nas áreas centrais antigas, como República e Sé, há moradores de renda média e baixa, que ocupam kitchenettes e apartamentos mais simples, sem garagem e área de lazer. Na zonas oeste e sul, há um perfil de maior poder aquisitivo e de demanda mais exigente.
Lembi destaca que na região central se encontra um grande estoque de kitchenettes e apartamentos de um dormitório com mais de 30 anos de construção. A região tem grande oferta de imóveis para venda e locação. Os lançamentos de flats e lofts, moradias unipessoais de alto padrão, são encontrados em regiões como Vila Madalena, Jardins e Moema.

Dois perfis
Os moradores solitários podem ser divididos em dois grandes grupos. 1) Os que moram sozinhos em razão da viuvez e da saída dos filhos de casa. As mulheres predominam nesse segmento, pois têm expectativa de vida maior e, em grande parte dos casos, não voltam a casar-se. 2) Grupos sociais mais jovens que, por motivos diversos, não constituíram uma família tradicional.
"As pessoas de 60 anos ou mais têm como referência o centro, onde há aluguéis mais baratos, infra-estrutura e comércio local", diz Oliveira, do IBGE, com relação ao primeiro grupo.
Ana Amélia Camarano, do Ipea, lembra que a opção por morar só está associada a uma condição mínima de renda. As regiões centrais, por possuírem imóveis acessíveis, são pólos de atração para os mais jovens que têm ambição de ter um lar exclusivo.
Mas, além de aspectos puramente práticos e materiais, há o componente comportamental, mais difícil de equacionar. "Morar sozinho é um estado de espírito, e o centro possibilita isso", declara Raul Leite Luna, 63, presidente interino do Secovi-SP.


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