São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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Crianças dormem em colchões à espera de inauguração de abrigo

Segundo a direção da instituição, motivo é falta de espaço na agenda do prefeito de Ribeirão Preto, Welson Gasparini (PSDB);

As 64 crianças e adolescentes vítimas de violência ou abandono estão há 10 dias nesta situação; prefeitura diz que prédio não está pronto


JUCIMARA DE PAUDA
DA FOLHA RIBEIRÃO

Sessenta e quatro crianças e adolescentes vítimas de violência ou abandono, com idades de 1 a 18 anos, dormem em colchões no chão há dez dias no Cacav, um abrigo da Prefeitura de Ribeirão Preto (314 km de SP), enquanto aguardam o prefeito Welson Gasparini (PSDB) inaugurar a nova sede, que está pronta, segundo a direção da instituição.
Os colchões estão sendo espalhados pelo chão porque as camas e outros móveis já foram levados para o novo prédio que irá sediar o Cacav (Centro de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vitimizados).
O novo abrigo não foi inaugurado ainda, conforme a coordenadora da instituição, Maria Inês Galão, porque o prefeito não tem espaço na agenda. A justificativa foi dada por ela a conselheiros tutelares durante a blitz feita por eles ontem -o diálogo foi gravado pela Folha.
"Está muito bonito lá [no novo prédio]. Acho que até o dia 8, o prefeito vai ter espaço na agenda para a gente fazer a inauguração", informou Maria Inês aos conselheiros.
Os cinco conselheiros tutelares, que foram ao local após denúncia anônima e flagraram oito crianças dormindo nos colchões espalhados pelo chão, enviaram a acusação ao juiz da Infância e da Juventude de Ribeirão, Paulo Cesar Gentile.
"Queremos que as crianças sejam levadas para o novo abrigo. Que o prefeito inaugure o prédio com elas lá dentro. Não podemos é deixá-las aqui, dormindo no chão", afirmou a conselheira tutelar Rosemary Aparecida Pereira.
Gentile encaminhou a acusação ao Ministério Público Estadual e pediu apuração do caso. "Eu vejo a situação como um incômodo passageiro e sem maior gravidade, mas que deve ser levantada com detalhes. Em princípio, parece uma situação sem maiores conseqüências. Deve prevalecer a mudança para o novo abrigo, que terá mais qualidade."
Ao ser informado da situação pela Folha, o secretário da Assistência Social, Nicanor Lopes, disse: "Ai, meu Deus do céu, vou falar com minha diretora técnica". Em seguida, a diretora, Anna Lúcia Ludovice Matias, ligou para a redação do jornal e informou que as camas foram pintadas e ainda cheiravam a tinta e que o imóvel não foi inaugurado porque era preciso pôr piso num dos banheiros e grafitar uma parede externa (leia texto nesta página).
A reportagem procurou o prefeito, mas o coordenador de comunicação da prefeitura, Vicente Seixas informou que o prédio novo ainda aguardava vistorias das secretarias da Saúde e da Infra-Estrutura.
Enquanto a mudança não ocorre, as crianças pensam no novo Cacav. "Meu quarto vai ser lindo. Tudo é novinho", disse uma menina de 6 anos que se preparava ontem para ir à escola quando os conselheiros iniciaram a blitz. "A gente está dormindo no chão, mas depois será bom. Tudo novinho", afirmou o amigo, de dez anos.
Além dos colchões com lençóis, os meninos recebem travesseiro e coberta. São encaminhadas para o Cacav as crianças que são retiradas das famílias por terem sido vítimas de violência doméstica. A instituição serve como abrigo provisório -a medida, prevista pelo Estatuto da Criança e Adolescente, pode ser aplicada pelo Conselho Tutelar ou pelo juiz da Infância e da Juventude.


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