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Crianças dormem em colchões à espera de inauguração de abrigo
Segundo a direção da instituição, motivo é falta de espaço na agenda do prefeito de Ribeirão Preto, Welson Gasparini (PSDB);
As 64 crianças e adolescentes vítimas de violência ou abandono estão há 10 dias nesta situação; prefeitura diz que prédio não está pronto
JUCIMARA DE PAUDA
DA FOLHA RIBEIRÃO
Sessenta e quatro crianças e
adolescentes vítimas de violência ou abandono, com idades de
1 a 18 anos, dormem em colchões no chão há dez dias no
Cacav, um abrigo da Prefeitura
de Ribeirão Preto (314 km de
SP), enquanto aguardam o prefeito Welson Gasparini (PSDB)
inaugurar a nova sede, que está
pronta, segundo a direção da
instituição.
Os colchões estão sendo espalhados pelo chão porque as
camas e outros móveis já foram
levados para o novo prédio que
irá sediar o Cacav (Centro de
Atendimento à Criança e ao
Adolescente Vitimizados).
O novo abrigo não foi inaugurado ainda, conforme a coordenadora da instituição, Maria
Inês Galão, porque o prefeito
não tem espaço na agenda. A
justificativa foi dada por ela a
conselheiros tutelares durante
a blitz feita por eles ontem -o
diálogo foi gravado pela Folha.
"Está muito bonito lá [no novo prédio]. Acho que até o dia 8,
o prefeito vai ter espaço na
agenda para a gente fazer a
inauguração", informou Maria
Inês aos conselheiros.
Os cinco conselheiros tutelares, que foram ao local após denúncia anônima e flagraram oito crianças dormindo nos colchões espalhados pelo chão,
enviaram a acusação ao juiz da
Infância e da Juventude de Ribeirão, Paulo Cesar Gentile.
"Queremos que as crianças
sejam levadas para o novo abrigo. Que o prefeito inaugure o
prédio com elas lá dentro. Não
podemos é deixá-las aqui, dormindo no chão", afirmou a
conselheira tutelar Rosemary
Aparecida Pereira.
Gentile encaminhou a acusação ao Ministério Público Estadual e pediu apuração do caso.
"Eu vejo a situação como um
incômodo passageiro e sem
maior gravidade, mas que deve
ser levantada com detalhes.
Em princípio, parece uma situação sem maiores conseqüências. Deve prevalecer a
mudança para o novo abrigo,
que terá mais qualidade."
Ao ser informado da situação
pela Folha, o secretário da Assistência Social, Nicanor Lopes, disse: "Ai, meu Deus do
céu, vou falar com minha diretora técnica". Em seguida, a diretora, Anna Lúcia Ludovice
Matias, ligou para a redação do
jornal e informou que as camas
foram pintadas e ainda cheiravam a tinta e que o imóvel não
foi inaugurado porque era preciso pôr piso num dos banheiros e grafitar uma parede externa (leia texto nesta página).
A reportagem procurou o
prefeito, mas o coordenador de
comunicação da prefeitura, Vicente Seixas informou que o
prédio novo ainda aguardava
vistorias das secretarias da
Saúde e da Infra-Estrutura.
Enquanto a mudança não
ocorre, as crianças pensam no
novo Cacav. "Meu quarto vai
ser lindo. Tudo é novinho", disse uma menina de 6 anos que
se preparava ontem para ir à
escola quando os conselheiros
iniciaram a blitz. "A gente está
dormindo no chão, mas depois
será bom. Tudo novinho", afirmou o amigo, de dez anos.
Além dos colchões com lençóis, os meninos recebem travesseiro e coberta. São encaminhadas para o Cacav as crianças que são retiradas das famílias por terem sido vítimas de
violência doméstica. A instituição serve como abrigo provisório -a medida, prevista pelo
Estatuto da Criança e Adolescente, pode ser aplicada pelo
Conselho Tutelar ou pelo juiz
da Infância e da Juventude.
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